A indústria têxtil vai investir 138 milhões de euros na bioeconomia sustentável, com o apoio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que vai contribuir com 71 milhões de euros para ajudar o sector a mudar de paradigma e criar produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos, em alternativa às matérias de base fóssil.
“O objetivo é marcar um novo ritmo e acelerar a mudança, mas sem deixar de garantir e até elevando padrões de qualidade com forte potencial em diferentes segmentos de mercado”, explica António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE - Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, a estrutura que lidera o “Be@t”, um nome que remete para a referência inglesa bioeconomy at textiles, ou bioeconomia nos têxteis, em português.
O projeto envolve um total de 54 promotores, entre empresas, universidades, centros tecnológicos e outras entidades que iniciaram esta semana as sessões de trabalho conjunto, indica o CITEVE em comunicado.
"São passos decisivos para o trajeto de mudança transversal no setor que, em cerca de três anos, permitirá abranger desde as matérias-primas ao design, à investigação e à produção", precisa Braz Costa, convicto do interesse crescente das empresas, mas também dos centros de investigação e tecnologia e das universidade em soluções que respondam “às exigências cada vez mais fortes da legislação e da sociedade em termos de respeito pelo ambiente”.
É um trabalho que passa pela descoberta de novas matérias-primas, desenvolvimento de outras técnicas, tecnologias e equipamentos de fabrico e processamento, o que significa, também, “desafios criativos e de investigação e um enorme esforço de investimento”.
Apenas 1% da roupa é reciclada
“Os fundos europeus canalizados a partir do PRR e o investimento dos diferentes promotores constituirão uma oportunidade para, através do Be@t, fazer com que esta reconversão do setor para a bioeconomia sustentável se torne efetivamente possível”, acredita o presidente do CITEVE, confiante nesta estratégia para “conseguir o cumprimento de princípios e metas de defesa ambiental e, em simultâneo, o desenvolvimento de novas estratégias de conquista de mercado, tanto a nível nacional como internacional”.
“Estamos a falar de um projeto que inclui a promoção do setor em diversos palcos e o robustecimento do prestígio dos têxteis e vestuário de fabrico português”, acrescenta.
De acordo com o relatório “Textiles and the environment: The role of design in Europe’s circular economy”, da Agência Europeia do Ambiente, os têxteis foram responsáveis pela terceira maior pressão sobre os recursos hídricos e o uso da terra em 2020, quando comparados com outros produtos de consumo.
E se estar na moda é, cada vez mais, ser sustentável, há mais dados reveladores do trabalho a fazer nesta indústria, como o facto de, em média, cada cidadão europeu deitar fora todos os anos cerca de 11 quilos de têxteis que registaram um consumo per capita de nove metros cúbicos de água e deixaram uma pegada carbónica de 270 quilos. E apenas cerca de 1% da roupa é reciclada para ser transformada em peças novas.
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