Economia

"É preciso tratar bem os professores", defende presidente da Fundação José Neves

"É preciso tratar bem os professores", defende presidente da Fundação José Neves
RUI DUARTE SILVA

Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves, alerta que “em Portugal mais de 40% das pessoas não tem competências mínimas no digital” e nota que “não soubemos atrair jovens para a carreira de professor”

Em cima do arranque do ano letivo, Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves (FJN), sublinha que a educação é, mais uma vez, notícia por questões como a falta de professores ou o atraso no arranque das aulas em algumas escolas, mas o debate “continua a passar ao lado do essencial”.

“O que queremos no sistema de educação em Portugal? Que apostas vamos fazer? Como é que a escola pública pode ter um enfoque nas competências socio-emocionais, preparar os jovens para comunicar, para trabalhar em equipa?”, questiona o antigo secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação.

“É a educação que vai fazer a diferença”, sustenta Carlos Oliveira, apresentando indicadores que podem soar como sinal de alarme. Um deles é o facto de em Portugal mais de 40% das pessoas não terem competências mínimas no digital, “cada vez mais fundamental para as coisas simples da vida, desde pagar impostos, à renovação do cartão do cidadão ou à interação com o empregador”.

Na véspera da comemoração do segundo aniversário da fundação criada por José Neves, fundador da Farfetch, com o objetivo de ajudar a transformar Portugal numa sociedade de conhecimento e a elevar o potencial humano dos portugueses através da educação e do desenvolvimento profissional, Carlos Oliveira assume a ambição de “chegar a cada vez mais portugueses com os programas da FJN”. Isto, sem tirar os olhos da realidade de um país que precisa de “tratar bem os professores” e de motiva-los, até porque “não soubemos atrair jovens para a carreira”, diz ao Expresso.

No balanço, o presidente executivo da Fundação apresenta números do trabalho feito, desde logo através do programa de bolsas reembolsáveis ISA FJN que disponibiliza 383 cursos em parceria com 38 instituições de ensino e já recebeu 3100 candidaturas, permitindo a 354 portugueses estudar ou a fazer uma reconversão da sua carreira com um investimento de 2,6 milhões de euros.

Destes,188 já terminaram os seus estudos. O destaque vai para a área da tecnologia e programação, a taxa de empregabilidade de 92% e, em média, conseguiram um amento anual superior a 8,5 mil euros no seu salário anual. O valor médio das bolsas é de 7500 euros.

“Uma das nossas prioridades neste projeto é levarmos os portugueses a estudar ao longo da vida, a evoluírem no grau da educação, até porque mais de 40% não terminaram o secundário”, destaca.

Mais auxiliares de educação, menos biólogos

Quanto ao portal Brighter Future, a maior base de conhecimento sobre educação, empregabilidade e competências em Portugal, permite comparar e relacionar dados e informação sobre 4500 cursos e formações, mais de 1800 profissões e outras tantas competências relevantes, disponibilizando um simulador de carreira e informação para ajudar cada um a escolher o seu futuro com base em factos e dados do mercado, da evolução do salário da profissão escolhida a nível nacional e regional aos postos de trabalho existentes ou à taxa de desemprego.

É aqui que podem encontrar-se informações como a que respeita ao aumento de 69% nas ofertas de emprego no último trimestre, face a período homólogo, ou de 3% face ao trimestre anterior. As ofertas para auxiliares de educação em infantários, rececionistas, psicólogos e cargos de direção em áreas como compras ou transportes triplicaram.

Em sentido contrário, as ofertas e emprego para venda ambulante, biólogos ou diretores de indústrias de construção e engenharia civil caíram 50%.

“ Os jovens chegam hoje ao mercado de trabalho com um salário inferior ao dos jovens de há 10 anos atrás”, afirma Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves

No que respeita ao 29k FJN, o programa de desenvolvimento pessoal destinado a fortalecer a saúde mental, o equilíbrio emocional e o bem-estar dos portugueses, desenhado para um modelo digital e gratuito, com 14 cursos, exercícios e meditações, conta atualmente com 37 mil utilizadores.

Entre as preocupações do momento, Carlos Oliveira destaca a pressão da inflação e o seu impacto no poder de compra e na qualidade de vida dos portugueses. “Sabemos que o salário dos portugueses com ensino superior caiu 11% numa década. Com a inflação, teremos um contexto ainda mais difícil do que era suposto”, diz para acrescentar: “no caso dos jovens o problema acentua-se. Os jovens chegam hoje ao mercado de trabalho com um salário inferior ao dos jovens de há 10 anos atrás. Estamos a falar de um futuro adiado”.

Empenhada “em continuar a avançar no longo caminho de ajudar Portugal a ter a educação e o desenvolvimento pessoal na agenda”, a FJN quer, também, atrair novos parceiros para esta causa e “para amplificar o seu impacto”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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