Economia

CTT reconhecem que têm "muitas reclamações" e atribuem a maioria às novas regras alfandegárias

Foto: CTT
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O presidente executivo dos CTT, João Bento, assegurou esta terça-feira no Parlamento que a empresa está a trabalhar para melhorar o serviço postal, afirmando que “o grosso” das queixas estão relacionadas com problemas ligados às novas regras de desalfandegamento de encomendas. O gestor afirma que tem tido dificuldade em contratar

O presidente executivo dos CTT reconhece que os Correios têm muitas reclamações, mas avança que depois do agravamento em 2020 e 2021, anos da pandemia, está a verificar-se agora uma recuperação. "Temos muitas reclamações, temos mais reclamações do que gostávamos de ter, e estamos a fazer muita coisa para melhorar", afirmou João Bento, numa audição a decorrer esta terça-feira na Assembleia da República, na sequência de um pedido de audição do PSD para questionar o concessionário do serviço postal universal.

As reclamações reduziram-se do primeiro semestre de 2021 para o primeiro semestre de 2022. "A situação está a melhorar porque investimos mais em pessoas e ferramentas", explicou o presidente dos CTT.

João Bento acrescentou, porém, que os Correios têm tido picos de absentismo na sequência da pandemia, e que não tem sido fácil contratar, sobretudo no período de férias. “Temos dificuldades maiores do que algum dia já foram [sentidas] e correspondem à falta de assiduidade devido à covid e a dificuldades de contratação”, afirmou João Bento

O gestor garantiu que, para ultrapassar estas dificuldades, já foram contactados todos os consulados dos países de língua oficial portuguesa, bem como juntas de freguesia e câmaras. Mas as dificuldades não se atenuaram. "Temos em média 100 vagas por preencher por falta de trabalhadores", sublinhou.

Não obstante, o gestor afirmou que nos últimos anos os CTT aumentaram o número de trabalhadores, que hoje são mais de 12 mil pessoas, das quais 5000 estão na distribuição. Os sindicatos afirmam que faltam 750 carteiros nos CTT. “O número de colaboradores dos CTT, entre 2015 e 2021, variou de 12.057 para 12.616 e o número de trabalhadores da unidade de correio e outros variou de 9.651 para 10.118”, detalhou o presidente dos Correios.

Reclamações agravam-se com desalfandegamento


O gestor salientou ainda que a maioria das reclamações correspondem às novas regras tributárias em relação ao desalfandegamento das encomendas vindas de países de fora da União Europeia, e que em Portugal são mais complexas do que na generalidade dos países.

“O grosso das reclamações vem do processo de desalfandegamento, que tem por base um guião da Autoridade Tributária, que é mais exigente do que na maioria dos países”, afirmou João Bento.

O gestor avançou inclusive que o Estado corre o risco de perder receitas fiscais, decorrente do encaminhamento para outras geografias, menos burocráticas e menos complexa. E exemplificou: “se houver informação eletrónica de que a encomenda vem num determinado voo e depois, no aeroporto de origem, esse voo for mudado, a Autoridade Tributária não permite que a mesma seja libertada". Tem de se recomeçar, apontando o novo voos, e alterando a informação, a que se acrescenta a exigência de que a pessoa que enviou a encomenda confirme essa informação.

Entregas caem de 6 milhões para 2 milhões de cartas

João Bento sublinhou a profunda transformação a que têm sido sujeitos os correios, primeiro com a digitalização da economia, e agora mais recentemente com a pandemia, que acelerou o uso de encomendas. A título de exemplo, avançou que no início do século, os CTT entregavam por dia seis milhões de cartas, hoje entregam 2 milhões. Em 2000 o rácio de cartas entregues por encomenda era de um para 30, hoje é de uma encomenda para três cartas. Ainda assim,

“A ideia de que os CTT deixaram de ser o que eram está errada. O nosso papel durante a pandemia deve orgulhar-nos. Em Espanha, fecharam, deixaram de fazer encomendas”, exemplificou. "Os CTT nunca fecharam", vincou.

Entre 2001 e 2014 foram encerrados 1528 postos de correios em Portugal, sendo que a partir daí e até 2021, o número de pontos aumentou 57%. João Bento reconheceu que algumas estações de correios encerradas a seguir à privatização não voltaram a abrir, mas explicou que alguns postos recebem, em média, por dia, menos de um cliente.


Desde maio de 2019, ano em que João Bento assumiu a presidência executiva dos CTT, foram abertas 32 lojas, afirmou o gestor. “Hoje temos mais estações e povoações onde há postos CTT”, garantiu.


O gestor voltou a defender que “é impossível” cumprir os 24 indicadores de qualidade impostos pelos CTT, considerando-os excessivos, e avançando que em média na União Europeia os critérios para medir a qualidade de serviço são seis.

João Bento salientou que em Portugal o serviço universal postal é ainda hoje pago apenas pela venda dos serviços, ao contrário do que acontece em muitos países, onde este serviço público é financiado pelo orçamento de Estado.

Em 2018, cerca de 70% dos proveitos provinham dos negócios tradicionais dos Correios, hoje são 49%.

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