Cada dia que passa sem tomar uma decisão sobre o novo aeroporto, o impacto numa economia que tem o turismo como motor, é forte. A consultora Ernest & Young (EY) fez um estudo para a Confederação do Turismo de Portugal, e concluiu que, no cenário mais otimista, com a construção de uma nova infraestrutura até 2027, o país perderia 6,8 mil milhões de VAB (a perda potencial acumulada de riqueza gerada), 27,7 mil empregos, 3,2 mil milhões de remunerações e 1,911 mil milhões de receitas fiscais. O número de turistas perdidos no cenário de recuperação rápida (o que vivemos hoje) são 5,3 milhões.
Já esperar por Alcochete, que só estaria pronto em 2034, resultará numa perda de 21,4 mil milhões de euros de riqueza e 40 mil postos de trabalho. A manter-se o cenário de recuperação rápida o número de passageiros perdidos é de 16,8 milhões.
"É urgente que se construa um novo aeroporto", repete Francisco Calheiros. O estudo foi já apresentado ao Presidente da República, primeiro-ministro e ministro das Infraestruturas, e é um contributo que pretende pôr números, numa discussão que se arrasta há 50 anos. "É altura dizer basta" e de construir, defendeu o responsável. Um cronometro colocado na sala da apresentação do estudo mostrava que em apenas uma hora, uma não decisão, leva o país a perder cerca de 130 mil euros.
Faça,se!, apela CTP. Calheiros foi informada da solução de Pedro Nuno Santos
O estudo analisa quatro cenários. Mas dois deles estão afastados, porque pressuponham uma retoma lenta, e a retoma está a ser rápida. Portugal. Portugal, sublinha Francisco Calheiros, é o país da Europa que mais rapidamente está a recuperar para os níveis de 2019.
O presidente da CTP afirma que não tem preferência de localização, só quer que a obra se faça, mas admite que perante o atual cenário, tudo aponta para que se avance para o Montijo. Foi, por isso, explicou que a Confederação "aplaudiu" a solução apresentada pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, entretanto revogada pelo primeiro-ministro. Calheiros esclareceu que um dia antes do despacho das Infraestruturas, o ministro o tinha informado do seu conteúdo.
"Tivemos conhecimento que essa decisão ia ser anunciada", afirmou. Quando? Francisco Calheiros respondeu: "Penso que um dia antes, tivemos uma conversa com o senhor ministro, em que este disse que iria anunciar a decisão de arrancar com o aeroporto do Montijo, razão pela qual muito rapidamente nos congratulamos com essa decisão". O que a CTP percebeu dessa conversa é que "há uma decisão que é Montijo". E que "para não estamos mais 53 anos a decidir qual o futuro", quando o Montijo estivesse esgotado avançar-se-ia para Alcochete". Mas este seria "um futuro longínquo", sublinhou.
Perdas potenciais sobem a cada ano de adiamento
Vamos aos cenários. No cenário onde os impactos económicos "são mais plausíveis no tempo", Portela +1, sendo mais um o Montijo, estima o estudo que "a perda potencial acumulada de riqueza gerada (VAB) para o país até 2027 atinja os 6,8 mil milhões de euros, associado em média a menos 27,7 mil empregos anualmente e a uma perda de receita fiscal estimada em 1,9 mil milhões de euros". Somando ao VAB não realizado os impostos não cobrados, "o país pode vir a perder cerca de 9.000 milhões de euros até 2027", refere o estudo. Já as perdas económicas poderão atingir a 0,77% do Produto Interno Bruto (PIB) e a 0,95% no emprego, "neste cenário de decisão adiada e recuperação rápida".
No cenário extremo, em que a procura turística ultrapassa a registada em 2019, e o novo aeroporto só está pronto dentro de 13 anos. O impacto estimado pelo estudo para a perda de riqueza acumulada é de 21,4 mil milhões de euros - o equivalente ao VAB gerado anualmente pelo turismo antes da pandemia - , menos 40,4 mil empregos anualmente e 6 mil milhões em receita fiscal. O valor médio anual de perda de receitas fiscais, neste cenário, seria 463 milhões de euros.
Francisco Calheiros não prevê que a solução Portela+1 esteja esgotada assim tão rapidamente, até porque quando isso acontecer estarão a ser transportados 60 milhões de passageiros. E dá como exemplo os números de passageiros que passam pelo aeroporto de Madrid, os mesmos 60 mil. “Portela mais Montijo é perto de 60 milhões de turistas, equivalente ao aeroporto de Madrid”, afirmou, admitindo que não se espera que este número seja atingido tão cedo. Em 2019, passaram pelo aeroporto de Lisboa mais de 31 milhões de passageiros.
Neste compasso de espera, a CTP não está muito confiante de que irá haver grandes obras na Portela, apenas de melhoria de eficiência do atual, mas não de capacidade “Há obras na Portela que deveriam estar a ser feitas, mas aparentemente há um diferendo entre o Governo e a concessionária“. A ANA está disponível para avançar com obras de 200 a 300 milhões de euros para aumentar a fluidez e o conforto, mas o investimento não permitirá ter mais slots.
“O consenso [entre partidos] tem de imperar”, afirmou Francisco Calheiros. “Com todas as pessoas com quem falei não ouvi ninguém que não achasse que é preciso tomar uma decisão“. O presidente da CTP já apresentou o estudo ao Presidente da República, ao Governo e ao PSD. Mas até agora não teve qualquer reação. Confessa, no entanto, que também não esperava ter. O que a CTP quer, defendeu, é que haja uma solução ainda este ano.
Francisco Calheiros admite que para já os atrasos e cancelamentos no aeroporto de Lisboa não estão a ter um grande impacto no fluxo de turismo, porque é uma situação generalizada na Europa. Mas é preciso resolver o problema, até porque é pelos aeroportos que entram a maioria dos turistas. Em 2019, o ano que antecedeu a pandemia, 55% dos turistas entraram pelo aeroporto Humberto Delgado.
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