Economia

Oracle vai comprar parte do capital da TikTok... Se o Governo chinês deixar

Oracle vai comprar parte do capital da TikTok... Se o Governo chinês deixar
NurPhoto

Um grupo de investidores liderado pela Oracle está em vias de fechar uma parceria com a ByteDance nos EUA, que garante que a gestão dos dados dos utilizadores permanece em mãos americanas

A Oracle concluiu com sucesso o primeiro passo para assumir a gestão da unidade americana da ByteDance, empresa chinesa que detém a rede social TikTok. Algumas fontes anónimas confirmaram, junto das agências Bloomberg e a Reuters, que a gigante das bases de dados americana conseguiu ganhar avanço e retirar da corrida o consórcio composto pela Microsoft e a Walmart para garantir o caminho aberto para uma parceria com a unidade americana da TikTok, que conta atualmente com 100 milhões de utilizadores registados nos EUA. Da China, surgem sinais de que o governo chinês pode chumbar esta parceria.

Aquando da entrada da Oracle nas conversações de compra, foi avançada a possibilidade de compra da TikTok por um total de 25 mil milhões de dólares (cerca de 21 mil milhões de euros), mas esse número deverá apenas servir de referência para o modelo de negócio que está a ser desenhado neste momento.

Segundo a Reuters, a Oracle propôs uma parceria que contempla a partilha de capital da empresa chinesa em solo americano, acrescendo a esta compra de capital da ByteDance americana o alojamento e a gestão dos dados dos cidadãos americanos.

A Oracle não está sozinha no esforço exigido pela compra: alguns fundos financeiros, como a Sequoia e a General Atlantic são apontados como potenciais investidores que poderão aproveitar esta oportunidade para comprar participações mais diminutas da unidade americana da rede social que é conhecida pelo alojamento de vídeos produzidos pelos internautas.

A confirmar-se, a solução proposta pelos responsáveis da Oracle terá méritos para os diferentes intervenientes envolvidos: por um lado, a ByteDance poderá, eventualmente, não ferir a suscetibilidade do Governo chinês que, recentemente, aprovou novas medidas que restringem a exportação de algumas tecnologias, e por outro lado, permite que a Oracle expanda o negócio para uma área em que não tem histórico, com um investimento mais reduzido que aquele que seria necessário para a compra da totalidade da TikTok americana.

Se nos EUA, o negócio é dado como quase certo, na China, pelo contrário, há quem diga que não deverá avançar: A televisão estatal chinesa garante que a ByteDance americana não será vendida nem à Oracle nem à Microsoft, uma vez que as autoridades chinesas querem impedir a detentora do TikTok a ceder os códigos fontes e algoritmos a empresas americanas. Esta posição surgiu reforçada no passado recente, devido às medidas protecionistas que o Governo de Pequim tem vindo a tomar em reação às interdições comerciais aplicadas pelos EUA à ZTE, à Huawei, e agora à ByteDance.

Também do ponto de vista político, a parceria Oracle-ByteDance pode ainda assumir contornos de quadratura do círculo: Larry Ellison, enfant-terrible das tecnologias que é um apoiante ativo de Donald Trump, poderá não só alargar o empório como capitalizar essa operação na estrutura do poder do setor tecnológico. Para a ByteDance seria uma saída airosa que não só permite manter uma posição nos EUA, como ainda deixa intocadas as posições que mantém noutros países (inicialmente, as notícias davam conta de que a Oracle queria juntar à intenção de compra da delegação americana as unidades da empresa chinesa na Austrália, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia).

Em contrapartida, a operação agora anunciada chega mesmo a tempo de respeitar a data-limite definida pela administração Trump, que intimou a ByteDance a vender a unidade americana da TikTok até 15 de setembro. O que significa que o acordo de parceria anunciado esta quarta-feira poderá ser fechado, sem, eventualmente, ser necessário proceder a uma interrupção das operações que poderia desvalorizar a TikTok nos EUA. Esta solução também permite evitar um confronto com a presidência e demais autoridades dos EUA.

Apesar das potenciais vantagens, ainda não é claro que o negócio agora alinhavado entre Oracle e ByteDance venha a garantir a luz verde das autoridades americanas no que toca à segurança nacional ou à concorrência. Tanto a Oracle como a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre as mais recentes notícias. O negócio tem sido analisado pelo Comité de Investimento Estrangeiro nos EUA, que terá uma palavra importante na aprovação ou chumbo da parceria entre Oracle e ByteDance.

Entre os analistas de mercado, há quem aponte duas potenciais perdedoras com este negócio: ao ver-se arredada da compra, cadeia de supermercados Walmart perde uma rampa de lançamento que lhe falta para competir com o crescendo poderio da Amazon no retalho; a Alphabet, que detém a Google, perde de imediato um grande cliente no alojamento de dados, visto que a ByteDance passa a armazenar os dados dos consumidores americanos nos servidores da Oracle.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas