Imobiliário vai à bolsa em tempo de pandemia

Bankinter e Sonae juntam-se para gerir mais de €200 milhões
Bankinter e Sonae juntam-se para gerir mais de €200 milhões
A Olimpo Real Estate Portugal (ORES) é, desde quarta-feira, a primeira sociedade de investimento e gestão imobiliária cotada na Bolsa de Lisboa.
O investimento em imóveis arrendados, como supermercados, hipermercados, lojas, retail parks e escritórios, nos principais centros urbanos de Portugal e de Espanha é o principal objetivo da ORES. Trata-se de um novo instrumento financeiro que gera uma renda garantida em torno dos 4%.
Criada pelo Bankinter e pela Sonae Sierra no final do ano passado, a ORES foi admitida à cotação na Euronext Lisbon com 12.550.000 ações ao valor nominal de €4 cada. Uma capitalização bolsista que ultrapassa o valor de mercado de algumas empresas cotadas na bolsa nacional.
“Esta parceria estratégica entre o Bankinter e a Sonae Sierra permitirá abranger uma carteira de imóveis sob gestão superior a €200 milhões ao nível dos maiores players ibéricos”, afirma Alexandre Fernandes, diretor de gestão de ativos da Sonae Sierra. Quanto ao destino do investimento, “o objetivo é de, pelo menos, 65% dos ativos em Portugal e até 35% em Espanha, localizados essencialmente nos maiores centros urbanos dos dois países”, acrescenta o porta-voz da ORES.
A empresa é detida pelo Bankinter (12%) e pela Sonae Sierra (5,14%), estando os restantes 82,86% distribuídos por pequenos acionistas.
A ORES pretende ser transversal no mercado. “Queremos captar todo o tipo de investidores interessados num veículo com exposição ao mercado imobiliário com contratos de longa duração e que tem como objetivo uma distribuição anual média de pelo menos 4% sobre o capital investido e um potencial aumento moderado do valor dos ativos”, explica Alexandre Fernandes.
As sociedades de investimento imobiliário (SIGI) são um instrumento novo no mercado nacional para investir em imobiliário. Na prática, são muito semelhantes aos REIT (Real Estate Investment Trust), fundos de investimentos imobiliários com forte presença nos mercados internacionais. “As SIGI têm que obrigatoriamente distribuir 90% das receitas geradas e ter permanentemente 80% do capital investido em ativos que gerem rendas”, explica Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon. O tipo de investimento destas sociedades inclui o mercado residencial, mas não tem sido este o seu principal objetivo. “Replicámos o regime jurídico em vigor noutros países, nomeadamente as SOCIMI de Espanha”, regime que permite que a espanhola Merlin seja negociada em Lisboa. Para a responsável da Bolsa de Lisboa, o rendimento garantido que é oferecido pode ser uma alternativa interessante de investimento, por oposição às ações — sujeitas a maior risco —, num contexto de baixas taxas de juro. “Dá a oportunidade de investir em imobiliário sem ter que comprar o imóvel”, afirma. “Para as empresas, é também uma alternativa interessante, porque permite separar o imobiliário da sua atividade principal sem terem que abrir todo o capital”, acrescenta, dando o exemplo de hospitais, centros ou redes comerciais ou a hotelaria. Isabel Ucha lembra que este novo regime é importante em termos da transparência fiscal, uma vez que as SIGI não pagam IRC, sendo as rendas ou valorização pagas pelo investidor em sede de IRS, no caso dos particulares, e em sede de IRC, no caso dos institucionais.
Sem surpresa, nos dois primeiros dias de bolsa a ORES não teve qualquer negociação. O perfil do seu investidor é mais conservador e não tem como objetivo ganhar com a valorização do mercado, como acontece com as ações, mas sim esperar pelos rendimentos fixos prometidos.
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