10 dezembro 2019 11:36

egídio santos
São 55 trabalhadores, muitos das mesmas famílias. Estão à porta da fábrica que entrou em processo de insolvência. “Agora como vai ser o nosso Natal?” ,questiona uma trabalhadora
10 dezembro 2019 11:36
São 55 trabalhadores, muitos das mesmas famílias. Estão juntos à porta da fábrica de calçado Helsar, em S. João da Madeira, depois de terem sido informados, segunda-feira, de que a empresa vai entrar em processo de insolvência. A primeira reivindicação “são os papeis para o acesso ao fundo do desemprego”, dizem.
“Neste momento não temos salários em atraso, mas vamos ficar sem dezembro e sem o subsídio de Natal. Agora, como vai ser o nosso Natal”, questiona Cristina Bastos, uma das trabalhadoras da empresa.
Entrou nesta fábrica de S. João da Madeira aos 16 anos. Hoje tem 49 anos, 33 dos quais vividos entre sapatos, com uma carreira feita a pulso desde aprendiz de gaspeadeira à receção da empresa e diz que “estavam a preparar uma festa surpresa para os trabalhadores que na verdade era um funeral”.
Não acredita no futuro. Garante que por ali correu tudo mal, desde logo na escolha dos mercados. A Helsar vivia muito entre o mercado nacional e o Reino Unido, onde avançou em força depois de calçar Pippa Middleton, a irmã de Kate, Duquesa de Cambridge. Aliás, a revista Forbes dedicou um texto a este caso e a forma como os sapatos de Pippa puxaram pelas exportações lusas no Reino Unido.
Em 2012, sob o título “como os sapatos reais de Pippa ajudam a economia portuguesa” , a Forbes defendia que “desde que se tornou público que tanto Pippa como a sua mãe, Carol, tinham encomendado sapatos Helsar, feitos por uma empresa familiar de calçado, perto do Porto”, para o casamento real, a marca elevou as suas exportações para o Reino Unido de 9% para 75%. E estes números tornam-se relevantes num país que teve de pedir um resgate financeiro á União Europeia e ao FMI, recordava, então a revista.
Entre Portugal e o Reino Unido
A verdade é que fonte do sector explicou ao Expresso que a empresa, muitas vezes apresentada como um exemplo da indústria de calçado, “tem um trajeto um pouco em sentido inverso ao da fileira”. “Ficou até muito tarde presa ao mercado nacional. Depois, acabou por se focar muito no Reino Unido, que com o Brexit também acabou por se tornar um destino complicado”.
O Expresso tentou falar com a administração da empresa, mas ninguém atende o telefone na fábrica. “Somos nós que estamos a tomar conta disto e não há ninguém lá dentro”, explicam os trabalhadores, que nos últimos meses já iam recebendo salários com atraso, mas viram ser contratadas 5 pessoas.
Do lado do sindicato dos trabalhadores do calçado, a dirigente Fernanda Moreira diz que a notícia “foi uma surpresa”, apesar dos funcionários da Helsar terem começado a notar mudanças na empresa no último ano e referirem “afastamento da administração e saída dos clientes, tendo ficado apenas um”.
Os trabalhadores referem que a administração “tentou retirar os moldes de um cliente inglês da empresa”. “Nós não deixamos”, contam.
A indústria do calçado, que o ano passado interrompeu um longo ciclo de recordes na exportação e este ano perde mais de 7% nas vendas na frente externa, já viu algumas empresas de referência, que ajudaram a afirmar o sector no passado recente, fecharam portas nos últimos tempos, como é o caso da Dkode e da Abreu e Abreu.