3 março 2019 12:00
Vista de Marvila
foto nuno botelho
A mediadora imobiliária Century 21 alerta que faltam casas para o poder de compra nacional
3 março 2019 12:00
O mercado de venda de casas esteve em alta em 2018, mas já evidenciando falta de oferta adequada ao poder de compra dos portugueses — destaca a rede imobiliária Century 21, que fechou o ano com um aumento de negócio de 17%, correspondendo a mais de 12,5 mil imóveis transacionados, totalizando um valor de €896,6 milhões.
Segundo apurou a Century 21, o crédito que os portugueses conseguem, em regra, suportar para financiar a compra de uma casa fica abaixo dos €500 mensais. A nível nacional, o que as famílias mais procuram é um apartamento em segunda mão, sem precisar de obras, com três quartos e duas casas de banho, em zonas centrais ou periféricas da cidade, e o preço médio que estão dispostas a pagar é de €138,6 mil .
Analisando a oferta que existe no mercado, a rede imobiliária constata que o preço médio para venda a nível nacional é de €173,2 mil, o que supera em 25% o que os portugueses conseguem pagar por uma habitação. A nível do financiamento, 35,3% dos compradores têm de recorrer integralmente ao crédito à habitação, sendo que para um terço das famílias esta taxa de esforço representa 20% a 30% dos seus salários (e para 11% excede mesmo os 30%).
“A evolução dos preços, não só no centro das cidades, está a colocar fora de mercado os portugueses, que não os estão a conseguir acompanhar”, salienta Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal. Os estrangeiros representaram 18% do total de vendas de casas naquela rede imobiliária, mas também neste campo começa a haver limites de preços. “Há uma maior procura internacional, mas que já está a pôr um teto de investimento até €300 mil”, refere o responsável, adiantando que também os estrangeiros estão a procurar alternativas na margem sul do Tejo ou no centro do país, fugindo aos preços aquecidos dos centros das cidades.“Fala-se muito no segmento de luxo e no cliente brasileiro com grande poder aquisitivo, mas esse é um nicho mais pequeno dentro do mercado geral”.
Em 2019, de acordo com Ricardo Sousa, é de prever um abrandamento ao nível da venda de casas devido à diminuição do poder de compra dos portugueses, quer para aquisição de habitação própria quer para arrendamento.
Vendas a abrandar em 2019
“Há muita procura para compra de casa, quer nacional quer internacional, e trata-se de uma procura real, que não é especulativa. Apesar disto, dizer que vai haver um abrandamento, pode parecer um paradoxo”, faz notar o CEO da Century 21, explicando que o que está aqui em causa é o nível de preços a que se chegou, e que “2018 foi marcado por alguns excessos, sobretudo de otimismo, por parte de todos os operadores do sector”.
Segundo Ricardo Sousa, os proprietários de casas, sobretudo usadas, que nesta altura as estão a pôr à venda, “têm uma ideia de valor que não é realista, as pessoas vão ao mercado com uma expectativa de preços que a maioria dos portugueses não consegue acompanhar”. O resultado é que as casas estão a ficar mais tempo no mercado. “Perante as notícias que apontavam 2018 como ano recorde no tempo médio de venda, no último trimestre esta tendência já se inverteu”, enfatiza o responsável da imobiliária, lembrando que “se as vendas eram feitas num período inferior a 45 dias, já se está a chegar aos 90 dias, e com a maioria dos proprietários dispostos a fazer descontos”.
Para 2019, “é fundamental que impere o bom senso, não é sustentada a ideia que existe hoje de que €5 mil por metro quadrado é mercado normal”, sustenta Ricardo Sousa, referindo que mais de 20% dos que procuram casa estão a desistir de a comprar por não encontrarem oferta ajustada ao seu nível de rendimento.
“O ajuste de preços que o mercado precisa será pela entrada de obra nova, mais ajustada ao poder de compra nacional, que ainda vai demorar tempo a chegar e os próximos dois anos vão ser marcados por desafios”, adianta.
Arrendamento caiu 62%
A “evidente falta de oferta de imóveis ajustada ao rendimento dos portugueses” também se refletiu no arrendamento, tendo a Century 21 registado aqui uma “forte quebra” de 62% em 2018, com as transações neste mercado a baixar para 1079.
Nas operações realizadas da rede imobiliária, o valor médio do arrendamento a nível nacional atingiu no ano passado €812 mensais, num crescimento de 35,7% face aos valores de 2017, que se cifraram em €598. Para a Century 21, “revela que foram os consumidores do segmento médio e médio alto que conseguiram aceder às soluções de arrendamento que estão em oferta no mercado”.
Ricardo Sousa frisa que a falta de oferta a valores ajustados está a deslocar a procura para as periferias, “o que também cria aqui pressão nos preços”. E prevê que em 2019 “os preços nos centros das cidades vão tender a estabilizar, mas a evoluir de forma mais acelerada nos mercados mais periféricos, onde está a haver agora maior procura”.