26 fevereiro 2012 12:35
"Lost in translation", de Sofia Coppola, quem não viu o filme? E lembram-se do cruzamento onde milhares de pessoas atravessam as ruas e se entrecruzam sem se tocarem, ao ritmo dos minutos que dura o sinal verde, numa ordem tão perfeita que até parece uma dança ensaiada?
26 fevereiro 2012 12:35
Pois é mesmo assim, eu estive lá hoje. É em Shibuya, o nome do bairro (e da estação de comboios) da juventude, em Tóquio. O bairro in, onde só se veem jovens com as suas roupas estranhas e cabelos pintados, de botas altas, rasas ou de pelo, saias curtas ou calções, tirando uns pelos outros a moda que se vai usar. Em Shibuya, é difícil acreditar que o Japão é o país mais envelhecido do mundo.
Parece um filme - e foi mesmo. Mas Tóquio é assim, uma metrópole gigantesca, de 13 milhões de habitantes, a que se juntam mais 20 se falarmos na Grande Tóquio, a maior área metropolitana do mundo.
Sabonetes e radioatividade
Há de tudo, mistura-se tudo. E há até, imagine-se, uma pequena gracinha portuguesa, sabonetes. Vi-os num dos armazéns de luxo que esta cidade tem aos montes, o Mitsukoshi, e nem queria acreditar que estava a ler português: "Sabonete aromático".
Eram cinco ou seis, todos com nomes diferentes, fabricados no Porto. Vendem-se bem, disse a vendedora, "as pessoas acham que tem um perfume muito delicado".
Tóquio é a primeira paragem para uma semana em busca das sequelas do maior terramoto e maremoto de que o Japão tem memória. Ao tsunami (a palavra japonesa que foi adotada mundialmente) seguiu-se o acidente nuclear de Fukushima, quando uma onda de 14 metros se abateu sobre a central do mesmo nome.
Li no jornal que os japoneses continuam inquietos, que o acidente de Fukushima pôs fim à tranquilidade com que conviviam com as 54 nucleares que existem no país - o Japão depende delas para criar energia.
A catástrofe pode ter posto fim a um modelo baseado na confiança cega nas capacidades tecnológicas. Kenzaburo Oe, prémio Nobel da Literatura de 1994, é um dos organizadores da campanha "Adeus ao Nuclear", que já reuniu cinco milhões de assinaturas e espera obter o dobro. Apela a um referendo.
Uma organização não governamental foi fundada com o objetivo de fornecer dados independentes sobre os níveis de radioatividade. No Japão, há muita gente a pensar que, depois de Fukushima, ninguém vai conseguir garantir que nunca mais acontecerá outro acidente assim.