1 março 2012 18:30

O imperador do Japão e o príncipe sucessor, acompanhados das respetivas mulheres, no palácio real em Tóquio
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Não é só a crise e a catástrofe do ano passado que preocupam os japoneses. As princesas imperiais, entre outras coisas, também.
1 março 2012 18:30
O Japão é extraordinário e num só dia aprendi uma série de coisas interessantes. O país - que está confrontado com uma crise profunda por causa da tripla catástrofe que se abateu sobre ele no ano passado (terramoto, tsunami e acidente nuclear em Fulushima) - não vive apenas disso, ou preocupado com isso.
Assim, aprendi hoje que o que preocupa os japoneses é "o estatuto das princesas imperiais". Ao que parece, elas perdem a sua categoria de princesas quando casam, mas agora os membros de um grupo especial do Governo recomendam que elas devam manter-se dentro da família imperial, embora com restrições, como por exemplo o marido não poder trabalhar.
O assunto saiu em todos os jornais e era manchete em pelo menos um deles. Acontece que a família imperial (a mais longa dinastia, com mil anos) só tem 23 membros (incluindo o imperador), mas só sete são homens e quatro já têm mais de 60 anos. Há oito mulheres solteiras, seis das quais com mais de 20 anos.
Mulher não sobe ao Trono do Crisântemo e o problema é que o príncipe herdeiro só tem uma filha. Por isso, quem lhe sucederá será o seu irmão mais novo, que conseguiu ter um rapaz depois de duas meninas. O ratio é apertado, pois.
A Europa fica tão longe!
A outra coisa que aprendi é que a Europa, vista daqui, está mesmo muito longe. Fala-se dela, mas da perspectiva da China, quero dizer, de como a China está a "comprar" a Europa. Isto é, empresas (e referem várias, em vários países, e falam até da REN, mas devem ter-se esquecido da EDP). Não querem títulos do fundo de resgate europeu.
Os chineses - refere-se aqui - chamam a isto "investimento estratégico". Têm toda a razão. "A altura é boa para a China investir na Europa porque os preços são relativamente baixos". Os japoneses até agora só compraram títulos.
Governo e deputados com salários cortados
A terceira coisa interessante que fiquei a saber é que, aqui, os salários dos funcionários públicos também vão ser cortados, numa média de 7,8% durante os próximos dois anos. A poupança será usada no financiamento da reconstrução da catástrofe (230 mil milhões de euros, prevê-se).
Os cortes abrangem os membros do Governo e deputados (10%) e o primeiro-ministro, que como tem que dar o exemplo verá o seu salário reduzido em 30%! O Partido Democrático (no Governo) queria ir direito ao osso e reduzir o Parlamento (Dieta) em menos 80 lugares (são 480), mas não conseguiu acordo interpartidário para tal. Para grandes males, grandes remédios.
A quarta coisa que aprendi é que também se esbanja muito dinheiro, embora com boas ideias. Em 2010, foi construído um gigantesco Parque de Prevenção de Desastres para a região de Tóquio, que ocupa mais de 13 hectares e tudo o que se possa pensar que seja preciso para centralizar o comando de operações, incluindo um hospital.
O Japão é a terra dos terramotos e ocorre um de magnitude 7 a cada 60 ou 70 anos. Só hoje de manhã foram cinco abalos, mais pequenos, claro. E eu, ontem à noite, senti um, de grau 5,8. Estava num 27.º andar e balançou tudo. "Rotina", diz quem cá vive. A mim assustou-me um pouco, confesso.
O tal parque custou 580 milhões de euros e está ali, prontinho, com todos os equipamentos e computadores aptos para o que der e vier. E enquanto não vem, serve de mostra de exposição e ensina a quem o visita o que tem de fazer se houver um terramoto. Há um cenário montado, em que uma pessoa se move e, no meio do escuro, tem de fazer um percurso que a leve a bom salvamento. Espantoso!