ARQUIVO O Expresso no Japão

Celebração do tsunami

28 fevereiro 2012 14:51

Luísa Meireles, no Japão (www.expresso.pt)

Tsunami destruiu 17 milhões de latas de cerveja da fábrica Kirin, mas seis meses a unidade já laborava de novo

getty images

Em Sendai, a cidade mais afetada pelo tsunami, também se festeja a reconstrução.

28 fevereiro 2012 14:51

Luísa Meireles, no Japão (www.expresso.pt)

Sendai, a 400 quilómetros a norte de Tóquio, tornou-se a cidade-símbolo do tsunami que a 11 de março varreu a costa leste do Japão. Capital da província de Miyagi, sofreu primeiro o terramoto e, logo depois, a vaga gigante. Entre um e outro decorreram quase 40 minutos.

A cidade, para os padrões japoneses, é pequena: um milhão de habitantes. Tornou-se um grande centro urbano no século XVII, por obra de um senhor feudal (daimyo), Date Masamune, cujo poderio militar ficou conhecido em todo o Japão.

Nos anais do Vaticano também ficou o seu registo. Foi Masamune que em 1613 decidiu enviar uma delegação ao Papa, numa longa viagem que termina em fracasso seis anos depois. O objetivo era construir uma igreja nos seus domínios e incentivar o comércio, mas foi tarde de mais. Entre a ida e a volta, os cristãos já tinham sido expulsos do Japão.

Para todos os efeitos, pouco resta hoje desse tempo histórico. A cidade foi violentamente bombardeada no final da II Guerra Mundial e foi inteiramente reconstruída. É uma cidade moderna.

O orgulho da cidade 

O tsunami deixou cicatrizes mas, para os japoneses que procuram sobretudo ultrapassar os fracassos, é motivo também para celebração. Por isso, foi paragem obrigatória no programa da visita à cidade parar uns momentos no "orgulho industrial" da cidade, a fábrica de cerveja Kirin, uma das marcas mais conhecidas em todo o país.

Situada à beira-mar, numa extensão de 32 mil metros quadrados, a fábrica (uma das nove da marca) foi arrasada pela onda que subiu até meio do primeiro andar. Os seus 450 trabalhadores subiram ao telhado de onde acabaram por ser retirados de helicóptero, 24 horas depois. Por sorte, não morreu ninguém.

A fábrica foi reconstruída em tempo recorde. Seis meses depois recomeçava a produzir cerveja e, em dezembro, retomou os fornecimentos, dois milhões de latas por dia, apenas um pouco menos do que produzia antes do tsunami.

Está tudo como novo e inauguraram-se visitas guiadas. A menina-guia conta com pormenor e orgulho cada passo da fabricação da cerveja, cuja marca data do princípio do século XX. Quanto ao célebre dia, o 11 de março, também sabe de tudo mas não esteve lá.

Era uma sexta-feira e estava de folga. O facto não a impediu de passar todo o mês seguinte, juntamente com os colegas, a recolher das imediações algo como 17 milhões de latas de cerveja. Tudo para o lixo.

Quanto a nós, terminámos a visita, como não podia deixar de ser, fazendo um brinde com um copo de cerveja e aperitivos de malte. Se as datas da História baterem certas, outro tsunami como este só daqui a 400 anos. Haja saúde!