3 março 2012 15:00

Local onde caiu a bomba atómica em Nagasaki, a 9 de Agosto de 1945
Há um museu pequeno mas muito bem organizado em Nagasaki sobre a bomba atómica. Fui visitá-lo. Era um pouco como ir a Roma e não ver o Papa.
3 março 2012 15:00
Chega-se até ele atravessando o Parque da Paz, que os japoneses construíram em memória da bomba que foi lançada a 9 de agosto de 1945. Matou em segundos 73 mil pessoas, feriu outras tantas, deixou sem casa 120 mil. Ao todo, viviam em Nagasaki 240 mil pessoas. A bomba é uma ferida na cidade e na sua memória.
O parque foi construído em torno do local onde a bomba foi largada. Há um memorial e uma gigantesca estátua apontando o céu. Há uma fonte, lembrando os que morreram por falta de água. Há uma torre queimada de uma igreja e as ruínas enegrecidas de um edifício-prisão.
O museu é simples porque em boa verdade não há muito pouco para contar. Mas há uma foto, isolada, imensa, tremenda na sua evocação: uma criança de lábios apertados carregando o irmãozinho bebé, já morto, no local da cremação. Órfãos.
A foto é de Joe D'Donnell, o marine americano que em 1945 fotografou durante seis meses Hiroshima e Nagasaki. No museu, a foto, que todos os japoneses conhecem, tem uma legenda escrita pelo próprio O'Donnell. Diz ele que, no final, a criança tinha os lábios cheios de sangue, tal a força com que cerrava os lábios.
Para mim, o museu foi aquela foto.
Em Tóquio, toda a gente continua a falar muito do terramoto do ano passado. Há um antes e um depois. Nada vai ficar como dantes, garantem.
Uma portuguesa que aqui vive dizia que os japoneses fazem questão de sublinhar, durante os treinos sistemáticos a propósito dos terramotos, que não se deve gritar para não assustar os outros e assim não entrarem em pânico. Se assim fizerem, têm mais possibilidades de sobrevivência.
Os japoneses têm razão. Mas são um povo especial, com uma maneira de reagir muito própria, irrepetível se calhar. Foi por isso que me lembrei da foto do menino órfão. Não chorou. Não gritou. Mas apertou os lábios até fazer sangue.