ARQUIVO Um país com quilómetros de histórias

Não é para me estar a gabar, mas gosto de fazer, de inventar

22 julho 2014 23:52

Bernardo Mendonça e Tiago Miranda

Sr Joaquim que quer passar o resto da vida a inventar, em Ourique Gare

Em Ourique Gare, no Alentejo, cruzámo-nos com Joaquim Silva, um inventor de máquinas e viaturas feitas com lixo e desperdício. Há quem lhe compre estas criações que nascem em noites de insónia. Dois repórteres do Expresso partiram numa viagem que os levará de norte a sul de Portugal. Estão a narrar diariamente o mais inesperado que se encontra pelo país fora.

22 julho 2014 23:52

Bernardo Mendonça e Tiago Miranda

Dia #7 na estrada.

Seguimos a sul em direcção a Aljustrel, depois Messejana, logo a seguir Conceição e, mais à frente, onde se entrelaçam as linhas férreas que trazem comboios para  estas e outras paragens, pudemos ler numa placa "Ourique Gare". A paisagem destas paragens é pura poesia alentejana. Campos dourados de feno e fardos de palha a perder de vista.

Chegados à vila e depois de falarmos com algumas gentes da terra, conhecemos uma espécie de professor Pardal do Alentejo. Um inventor de viaturas e esculturas tão belas quanto absurdas. Todas feitas por si, com lixo e desperdício de bicicletas, motas e automóveis.

"Sou um engenhocas de toda a maneira e feitio. A gente à noite não dorme e põe-se a pensar como há de encaixar as peças para fazer novas viaturas. Sai tudo da minha cabeça, para passar o tempo." Registámos o momento em que Joaquim Silva, de 65 anos, mais conhecido por Joaquim de Ourique, estacionava na garagem um dos seus excêntricos veículos a pedal - um quadriciclo vermelho, símbolo da Mercedes colado na frente e dois volantes, a que o seu criador chama na brincadeira de 'Jipe 4x4 ecológico'. "Não gasta nada. É energia pessoal."

Visitámos a garagem do seu bricabraque e estavam ali criações surpreendentes como um avião a motor feito aos 15 anos ou a escultura "gaivota costureira", construída a partir de uma máquina de costura com que chegou a fazer roupa. "Fui alfaiate, electricista, mecânico, bate-chapas. Ajeito-me a tudo o que for preciso construir com as mãos para dar de comer à boca."

Hoje, Joaquim vive dos rendimentos da loja de pronto a vestir que a mulher tem e do que a terra que cultiva lhe dá. "Até poder, vou inventando estas coisas. De vez em quando chega alguém aqui que me quer comprar uma destas máquinas. Eu vendo. Por €150 ou €200. Há tempos, um senhor de Montalegre abalou daqui com uma bicicleta de três rodas bem bonita. Soube mais tarde que se magoaram com aquele enredo. Então não é que se foram meter em corridas com aquilo?"

Sr Joaquim que quer passar o resto da vida a inventar, em Ourique Gare

Sr Joaquim que quer passar o resto da vida a inventar, em Ourique Gare

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