25 julho 2014 1:47
Chegados a Quarteira, no Algarve, encontrámos o Dragão, o Tubarão, o Crocodilo e o Colchão. São boias, senhores e senhoras, e têm todas uma história. Dois repórteres do Expresso partiram numa viagem que os levará de norte a sul de Portugal. Estão a narrar diariamente o mais inesperado que se encontra pelo país fora.
25 julho 2014 1:47
Dia #8 na estrada.
Chegámos a Quarteira, terra de praia, pesca e turismo de massas. Por esta altura parece que o país e a Europa inteira estão a banhos nesta zona do mapa. E como é tradição, a partir do próximo dia 1 de Agosto a enchente será ainda maior. Depois de uma breve volta pelo centro da cidade, inundada de lojas de chinês com artigos de praia, chamaram-nos a atenção as boias coloridas, das mais variadas formas, feitios e tamanhos que se destacam nas bancas de rua e no areal entre os banhistas. Inspirados por tantos objetos insufláveis, decidimos retratar quatro boias. E contar a histórias de quem as tem ou foi a banhos com elas. Com boias destas o país não vai ao fundo.
O Dragão

A segurar na boia-dragão está a chinesa Shen, de 33 anos, proprietária do estabelecimento "Quarteira Store", que trocou Pequim por Quarteira há 12 anos. A pele imaculadamente branca denuncia que não tem metido os pés na areia. "Não tenho tempo para praia. 'Trabalo' todo o dia." Diz-nos que os ingleses são os seus melhores clientes e que apesar do negócio não correr mal, há 3 anos estava bem melhor. Pede por este animal de encher €12.50. Em troca garante que o dragão não deixa ninguém ir ao fundo.
O Tubarão

"Para mim é um golfinho", diz-nos Ten algo confundida com o mundo animal marinho. Esta empregada de balcão chinesa, de 38 anos, saiu há 12 anos de Xianhai para esta região do Algarve - quis tentar a sua sorte. Não arranhava nenhuma palavra na altura, agora faz-se entender. Cobra por esta boia €9, que, pela sua dimensão, quase dá para fazer a recriação de uma das míticas cenas do clássico filme de Spielberg, feito em 1975.
O Crocodilo

Este réptil de boiar é do Henrique, um rapaz de 4 anos que gosta de todo o tipo de animais e que fez a mãe comprar-lhe esta boia por €7,50 neste mesmo primeiro dia de férias, para que a estreia no mar fosse em grande e sem medos, já que ainda não sabe nadar. A mãe, Susana Carvalho, de 34 anos, conta que estão a viver na Suíça, onde Henrique nasceu. "A vida é muito melhor por lá. Eu, como caixa de supermercado, ganho mais do dobro do que ganharia em Portugal. Isto se conseguisse trabalho. Está fora de ideia regressarmos." Todos os anos, Susana, o marido e o pequeno Henrique vêm matar saudades do sol e da família. "Como se chama o crocodilo?", perguntámos ao pequenino. "Henrique, como eu."
O Colchão

Há dois anos, a avó Laurinda Faísca, de 79 anos, costureira reformada, ofereceu a dois dos seus netos (irmãos gémeos) este colchão para se estenderem ao comprido nas águas de Quarteira. "Custou-me cerca de €7 e felizmente ainda dura." O avô Franklin Bento, de 84 anos, reformado da construção civil, gosta tanto de praia como os pequenos que com eles vieram. "Isto não são férias. Só temos de atravessar a passadeira da estrada, porque moramos no prédio em frente", explica Laurinda, com chapéu de palha e a pele escura desta (boa) vida de verão.
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