17 dezembro 2006 9:04
17 dezembro 2006 9:04
Gostou de ver a selecção no Mundial?
Diverti-me. Acho que chegar à meia-final de um Mundial é sempre um feito.
Scolari surpreendeu-o?
Não.
Acha que teria feito melhor no lugar dele?
Teria feito diferente. Cada treinador, cada cabeça. Se perguntar a todos os outros treinadores portugueses, vão dizer-lhe o mesmo.
Scolari teria dado um bom seleccionador de Inglaterra?
Na minha opinião, o futebol inglês merece um seleccionador inglês. Da mesma forma que o futebol português merece um seleccionador português. Acho que a selecção é representativa de um país e que deve ser feita com cidadãos desse país. O que não significa que não respeite profissionais e que eu próprio não vá ser um seleccionador estrangeiro.
Ainda tem quatro anos de contrato pela frente. Falou abertamente que gostava de vir a ser seleccionador nacional. É um projecto para essa altura?
Para mais tarde. Se me perguntasse qual é que seria o meu final perfeito enquanto treinador, era treinar a selecção portuguesa num Europeu e num Mundial.
Quer experimentar, antes disso, o futebol italiano?
Há qualquer coisa que me atrai para o futebol italiano. Temos ideias diferentes do treino, da metodologia. Mas, fundamentalmente, sou apaixonado pelo futebol e quero estar no melhor futebol do mundo. Neste momento, Inglaterra tem o melhor campeonato, os melhores jogadores, os estádios estão cheios, há milhões e milhões de telespectadores no mundo a seguir os jogos. Podemos ter opiniões divergentes sobre a qualidade, a beleza, o estilo de jogo. Há quem prefira a liga espanhola ou italiana, mas enquanto fenómeno sócio-desportivo o campeonato inglês está a quilómetros de distância. Não há nada que me empurre para fora do Chelsea. Gosto do projecto, sinto-me parte do clube. Estou extremamente contente.
E regressar um dia ao campeonato português?
Não posso dizer nunca, mas duvido.
Não tem contas a acertar com o Benfica?
É um sentimento estranho.
Não sei se é benfiquista
ou, pelo menos, simpatizante.
Nem sou benfiquista nem anti-benfiquista. É um sentimento estranho. Olho para a minha etapa no Porto e acho que aproveitei ao máximo aquilo que o clube tinha para me dar e o Porto aproveitou ao máximo aquilo que eu tinha para lhe dar. Não pode haver sentimentos negativos.
Mas no caso do Porto houve sentimentos negativos
Sim, no caso do Porto houve
Já experimentou voltar à cidade do Porto?
Não, nunca mais voltei. Só para jogar. Cheguei, joguei e parti.
Não tem muita vontade de lá ir.
Até tenho.
Por prazer? Para passear?
Tenho lá amigos.
A sua relação com Pinto da Costa normalizou-se? A última vez que tinha falado com ele tinha sido na final com o Mónaco, em 2004.
E continua a ser a última.
Nunca mais trocaram palavras?
Não. Mas não me recordo de o senhor Pinto da Costa ter falado de mim de forma depreciativa e nunca falei dele de forma negativa. Foi o fim perfeito para todos: fomos campeões europeus.
A ferida já está sarada?
Não faço ideia. O que estou a tentar explicar é que, do ponto de vista meramente profissional, o meu último dia no Porto foi um dia de sonho para mim e para o clube. É o dia em que fomos campeões europeus. Com o Benfica, o sentimento é completamente oposto. Aquele Benfica não estava preparado para me ter a mim como treinador.
Agora dizem que são o maior clube do mundo. Não sei se a notícia chegou a Inglaterra.
Chegou. O que significa dizer-se que é o maior clube do mundo? Lá está. É o número de adeptos? É a capacidade financeira? São os títulos que se conquistam? O meu sentimento em relação ao Benfica é de
eu não diria frustração, porque a minha vida transformou-se tanto e consegui coisas tão boas, que não posso considerar que foi um período de frustração. Mas se eu tenho chegado ao Benfica de hoje, com o presidente e a credibilidade que tem hoje, com o saneamento económico que teve
Acha que teria possibilidades de fazer no Benfica o mesmo que fez no Porto?
Penso que sim. O Benfica tem hoje condições de trabalho, tem uma estrutura de clube importante, tem credibilidade e prestígio, parece ter estabilidade financeira. A única coisa que posso agradecer ao Benfica do meu tempo é terem-me escolhido, mas depois não tive um mínimo de condições para desenvolver o trabalho de acordo com a minha personalidade e as minhas exigências. Eu olho para o Benfica hoje e fico com um sabor amargo: porque é que eu não fui encontrar este Benfica, este presidente, esta estrutura que existe actualmente? Há um sentimento um pouco frustrante de ter estado num clube tão grande como o Benfica e nem eles terem tido capacidade para mim, nem eu ter tido, perante a conjuntura que encontrei, a capacidade de fazer aquilo que queria fazer. Estive lá dois ou três meses. E tudo acabou.
Qual é, neste momento, o melhor treinador em Portugal?
Não sei. Acho que é uma injustiça estar a dizer nomes.
O Porto teve grandes mexidas depois da sua saída. O que acha do trabalho de Jesualdo Ferreira?
Se contarmos com o Rui Barros, Jesualdo é o sexto treinador desde que eu saí. O Porto parece ter encontrado agora um rumo. Para já, foi campeão no ano passado e o treinador fez um bom trabalho. A equipa tinha características muito específicas e aquilo que mais prazer deve dar a um treinador é dizer: "Eu ganhei com a minha marca, com a minha filosofia". O Co Adriaanse fez um excelente trabalho. Este Porto do Jesualdo Ferreira é diferente. Ele está a tentar incutir as suas ideias e parece-me uma equipa boa, com bons jogadores, bem trabalhada, com competência suficiente para voltar a ser campeão. E para fazer coisas boas nas competições europeias.
Tem acompanhado o processo do Apito Dourado?
Não consigo acompanhar um processo que dura 100 anos.
Há um fundo de verdade no Apito Dourado?
Eu acho que a história dos árbitros é uma história interminável e só a tecnologia poderá melhorar as coisas. Não entendo como numa indústria tão forte como é o futebol, a tecnologia na arbitragem não existe. Ela reduz os erros e ao reduzir os erros, reduz a crítica e a suspeição. E reduz a responsabilidade dos árbitros. Uma coisa é um fiscal de linha decidir um jogo por um fora de jogo mal assinalado, outra coisa é a tecnologia substituir o fiscal de linha numa decisão crucial. A tecnologia no futebol é o fim de todos os Apitos Dourados que possam existir.