18 fevereiro 2010 0:48

How I Ended This Summer: um corte geracional
"How I Ended This Summer" foi feito nos confins da Terra. E agrada à crítica internacional. Já "Shahada", da Alemanha e "On The Path", da Bósnia, são filmes lamentáveis.
18 fevereiro 2010 0:48
O desconhecido realizador russo Alexej Popogrebski chegou a Berlim com um filme muito estranho. Estamos em Chukotka, no Ártico. Na estação meteorológica de uma ilha remota. Duas personagens: Pavel, homem maduro e técnico experiente e Sergei, jovem estagiário e um tanto irresponsável. O primeiro é um bocado teatral, o segundo um tanto lírico.
Paisagem inóspita, câmara à mão, ecrã largo, três meses de rodagem: a coisa exigiu músculo ao director de fotografia. O trabalho dos dois homens consiste em medir a radiação, literal e metafórica, de um (mais que provável) passado soviético. Para além deles, não se vê vivalma.
"How I Ended This Summer" é um filme sem filiação no cinema russo. Sinal de que 'os pais se perderam' e que as coisas estão a mudar. Sergei não consegue compreender Pavel. A comunicação entre ambos não é racional.
Um dia, Sergei recebe um telegrama com uma notícia trágica para Pavel. O veterano foi pescar trutas. O jovem está-se nas tintas para a pescaria e hesita em passar ao seu chefe o conteúdo do telegrama. Até que a tensão entre os dois homens começa a subir de tom. E o filme explora este corte geracional, até à loucura.
A primeira parte do filme documenta e, enquanto o faz, mantém o mistério. A segunda tende a dramatizar e perde-se na confusão. O que dizer? Que "How I Ended This Summer" não é filme para deitar fora nem para ver duas vezes. É um daqueles 'filmes do meio' que costumam causar surpresas. Que costumam servir de critério de desempate quando os júris não se entendem. Nesses casos, ganham festivais.
Sociologia e má consciência

Shahada
"Shahada" é um filme monstruoso. Vem assinado por Burhan Qurbani, jovem cineasta alemão de pais afegãos. Qurbani teve maus professores na escola e viu todos os filmes de Iñarritu. E imitou-o para pior nesta sua primeira obra terrivelmente académica e dividida em três histórias com outros tantos muçulmanos de Berlim.
Religiosos, andam a pisar o risco: uma rapariga faz um aborto; um rapaz descobre que é gay; um outro é adúltero. Estão todos a falhar com a Shahada, a profissão de fé e pilar número um do Islão. Três beatos insuportáveis, para não irmos mais longe.
On the Path
No dia seguinte, mais uma incursão pelas más consciências dos aflitos em "On The Path", de Jasmila Zbanic. Vem da Bósnia-Herzegovina. Traz-nos um casal todo modernaço - podíamos imaginá-los vestidos de turistas a torcer pela sua equipa no próximo Mundial de Futebol da África do Sul se a Bósnia não tivesse sido eliminada por Portugal. Ela é hospedeira, ele trabalha na torre de controlo do aeroporto.
Estala a crise: o homem encontra um velho amigo que combateu a seu lado na Guerra dos Balcãs. O amigo tornou-se um religioso islâmico radical. E o homem vai pelo mesmo caminho, para horror da hospedeira. A realizadora Jasmila Zbanic defendeu o seu retrato sociológico sublinhando que esta radicalização religiosa da Bósnia-Herzegovina, de maioria muçulmana, é um dos maiores problemas actuais do país.
Que raio: não há meio de acabarem com estes filmes manhosos que bajulam os prémios dos maiores festivais de cinema à custa do desgraçado do Maomé. "Gbravica", filme anterior de Zbanic, já era atravessado pelo mesmo credo de boas intenções: e não é que venceu o Urso de Ouro em 2006?
How I Ended This Summer (Rússia) de Alexej Popogrebski (Selecção Oficial - Competição)
Shahada (Alemanha) de Burhan Qurbani (Selecção Oficial - Competição)
On The Path (Bósnia-Herzegovina/Áustria/Alemanha/Croácia) de Jasmila Zbanic (Selecção Oficial - Competição)
Mais informações no site oficial do Festival de Cinema de Berlim 2010.