ARQUIVO Tarrafal

Tarrafal é "a prova da desumanidade dos regimes fascistas"

2 maio 2009 12:50

Presente na vila do norte da ilha cabo-verdiana de Santiago, Mário Soares lembrou que a ideia do Estado Novo era levar os antifascistas, republicanos e anarquistas contestatários do regime e deixá-los ali morrer.

2 maio 2009 12:50

campo de concentração do TarrafalEstado Novo

Presente naquela vila do norte da ilha de Santiago, onde participou ontem na sessão de encerramento dos quatro dias do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, Mário Soares lembrou que a ideia do Estado Novo era levar os antifascistas, republicanos e anarquistas contestatários do regime e deixá-los ali morrer.

"Este campo é a prova do que é a desumanidade dos regimes de tipo fascista, como o nosso. Os homens que vieram para aqui para morrerem cá. É um campo de morte lenta. Morreram muitos, outros ficaram inutilizados para toda a vida", referiu à Lusa, antes do encerramento dos trabalhos.

"Alguns, como o Edmundo Pedro, sobreviveram. Já está com 90 anos. Foi realmente uma coisa insuportável, que ninguém sabia ou pouca gente sabia. Só a partir de 1943, quando virou a (II Grande) guerra é que começámos a fazer grandes campanhas contra o campo", acrescentou.

Fundação disponível para pólo de História

Sobre o repto lançado pelo Governo de Cabo Verde em relação à criação, na antiga colónia penal, de um pólo de História de África, Mário Soares disse que a fundação com o seu nome está disponível para apoiar o projecto.

"A Fundação Mário Soares tem um protocolo e uma parceria com a Fundação Amílcar Cabral. Temos o maior arquivo de Amílcar Cabral. (...) Sentimos como um imperativo moral fazer o que for possível por Cabo Verde, que é um país com que simpatizo muito", respondeu.

O ex-Presidente português disse ainda que está, desde o princípio, a apoiar a candidatura da Cidade Velha, 15 quilómetros a oeste da Cidade da Praia, a Património Mundial da Humanidade, tendo, para tal, já enviado uma carta ao director-geral da UNESCO, a quem deu conta da importância daquela localidade, onde foi edificada a primeira povoação portuguesa no arquipélago.

Questionado pela Lusa sobre a vontade do Governo cabo-verdiano candidatar, assim que a decisão da UNESCO sobre a Cidade Velha for tomada, o Campo de Concentração do Tarrafal também como Património Mundial da Humanidade, Mário Soares referiu ter dúvidas.

"Não sei se será demais. Isso é com eles. Mas, claro, se tiverem um Património Mundial agora, dois é um bocado mais difícil. Mas atirar o barro à parede não custa nada", considerou Mário Soares que, mais tarde, na sua intervenção na sessão de encerramento, afirmou ser "importante não apagar a memória" sobre a História do campo.