29 abril 2009 20:55
O primeiro ministro cabo-verdiano diz que uma visita ao Tarrafal "basta para avaliar a crueldade do fascismo e do colonialismo português e os sacrifícios consentidos pela causa da liberdade e da independência". (Vídeo no fim do texto)
29 abril 2009 20:55
O primeiro-ministro cabo-verdiano pede aos estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que ajudem a transformar o antigo Campo de Concentração do Tarrafal num Museu de Resistência Antifascista e de Luta Anti-Colonial.
José Maria Neves falava na sessão de abertura do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, que decorre até sexta-feira, dia em que passam 35 anos sobre o encerramento definitivo daquele que foi descrito como o "campo da morte lenta".
"Apelo a todos os governos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para transformarmos este ex-campo de concentração num Museu de Resistência Antifascista e de Luta Anti-Colonial, para lembrarmos a história de um passado que, por um lado, nos envergonha e que não queremos que se repita jamais", disse José Maria Neves.
"Por outro lado, (o antigo campo) engrandece-nos, porque houve homens e mulheres que não se calaram perante as injustiças e arbitrariedades e que nos legaram a coragem de continuar a lutar e a vontade de vencer, sempre", acrescentou, perante mais de 40 ex-presos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal.
José Maria Neves, que discursava numa das alas que, após o início da Guerra Colonial, em 1961, serviu de cela aos presos políticos de Cabo Verde, considera que uma visita ao campo do Tarrafal "basta para avaliar a crueldade do fascismo e do colonialismo português e os sacrifícios consentidos pela causa da liberdade e da independência".
"Precisamente 38 anos após a criação do Campo de Concentração do Tarrafal, a 25 de Abril de 1974, acontece a Revolução dos Cravos em Portugal, que pôs fim ao regime colonial fascista e abriu caminho à independência das ex-colónias portuguesas e à instauração da democracia em Portugal", lembrou.
Fazendo um balanço dos 35 anos após o 25 de Abril e de 34 sobre as independências, o chefe do executivo cabo-verdiano disse que, "afinal, tudo valeu a pena". Dirigindo-se a três ex-presos bem conhecidos, presentes no simpósio, e aos prisioneiros guineenses, igualmente a participar no encontro, disse: "Edmundo Pedro, diga a todos os seus companheiros de combate e de cárcere que valeu a pena. Luandino Vieira, escreva em todos os livros do mundo para que o mundo inteiro saiba que valeu a pena. Luís Fonseca, fale com os diplomatas e diga-lhes que estamos aqui, firmes, para continuar a caminhada, para construirmos um futuro de paz, tolerância, liberdade, democracia e dignidade para todos", sublinhou.
"Quero que os nossos irmãos da Guiné-Bissau anunciem em todas as tabancas (povoações), em todas as ilhas, para que todos oiçam que Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e tantos outros que são os nossos heróis que não morreram em vão", acrescentou.
O primeiro-ministro de Cabo Verde admitiu, por outro lado, os "erros cometidos" no passado pós-independências, as "fragilidades" dos processos de construção de um Estado e as "debilidades das políticas públicas mas deixou uma mensagem de esperança no futuro.
"Assumindo plenamente as nossas responsabilidades políticas em tudo o que terá acontecido após a independência, teremos de continuar a luta para que os ideais mais nobres e o testamento dos combatentes da liberdade sejam plenamente cumpridos", sustentou.
"Mas os ideais por que lutaram os nossos camaradas que viveram longos anos no cárcere, esses continuam perenes: a liberdade, a democracia e a dignidade da pessoa humana estarão sempre no âmago de todas as nossas batalhas", referiu José Maria Neves.
Presentes na sessão de abertura estiveram também os ministros da Cultura de Angola e Guiné-Bissau, bem como os presidentes das fundações Amílcar Cabral e Mário Soares, que, em colaboração com outras entidades, ajudaram a concretizar o simpósio.