ARQUIVO Steve Jobs (1955-2011)

Steve Jobs por Henrique Monteiro

7 outubro 2011 19:43

Henrique Monteiro (www.expresso.pt)

O homem que compreendeu o que eu precisava antes de eu o saber.

7 outubro 2011 19:43

Henrique Monteiro (www.expresso.pt)

Henrique Monteiro, Diretor Coordenador Editorial para as Novas Plataformas e Multimédia

Henrique Monteiro, Diretor Coordenador Editorial para as Novas Plataformas e Multimédia

Clique para aceder ao índice do dossiê Steve Jobs (1955-2011)A primeira vez que trabalhei num computador, aí há uns 25 anos na redação de 'O Jornal' (semanário que resultou na atual revista Visão), foi num Macintosh da Apple. Mais tarde, já no Expresso, quando conheci os PC com os sistemas Ms Dos, senti que tinha andado para trás no tempo. Mas nessa altura, o nome de Steve Jobs nada me dizia, salvo ser um tipo da minha geração, que tinha sido mau estudante e, não obstante estava incrivelmente rico.

Só 10 anos depois me começaria a interessar por computadores, Internet, hardware e software. Quando o Expresso me integrou na equipa que haveria de escolher um sistema editorial e também lançar a nossa edição online.

Nessa altura, em 1995, a Apple parecia uma coisa com pouco futuro: tinha os seus resistentes, o seu nicho próprio, nomeadamente designers e músicos, que não abdicavam da superioridade gráfica e dos magníficos programas de composição e leitura de partituras, e pouco mais. Bill Gates dominava o mercado e, assim como 15 anos antes falar de computadores era falar da IBM, nessa época falar de computadores pessoais era falar de PCs da Microsoft.

moshe brakha/ap

Ele viu, antes que eu próprio tivesse dado conta disso, que me era útil transportar o Don Giovanni; ou que eu tinha absoluta necessidade de ouvir o Wish You're Here, dos Pink Floyd, fosse no alto de uma serra ou a andar pelas ruas de Paris. Foi essa a experiência que o iPod proporcionou e que se manteve no iPhone, juntamente com aquela necessidade que nunca sentira - consultar os mails 400 vezes por dia ou sincronizar o calendário do meu computador (um PC, ó vergonha nunca comprei um Mac!) com um calendário que está no telefone.

Também jamais pensei em comprar bilhetes de avião pelo telefone, servindo o ecrã do telefone de cartão de embarque... Mas Jobs e aqueles que seguiram 'O Livro de Jobs' (magnífico título da revista The Economist) perceberam que isso me era útil. Como entenderam - e muito bem! - que eu tinha, absolutamente tinha, de ler livros e jornais, enquanto ouço os clássicos, sejam eles do séx. XVIII ou XIX, sejam os da pop e ao mesmo tempo que consulto mails, agendas, listas de contactos, e sei o clima de Singapura.

É tudo tão simples! E por isso nada me agradou mais do que ter como função adaptar os nossos conteúdos editorais para plataformas que, já não sendo apenas o iPad, nasceram todas do génio de Jobs, porque foi ele - e não outro - o primeiro a entender que cada pessoa devia ter um ecrã que a liga aos outros e a coloca em contacto com uma loja onde se vende tudo (ou quase) o que há para vender desde que possa ter um suporte digital: livros, discos, jornais, jogos, guias de restaurantes e hotéis, bilhetes, informações, manuais, cotações da bolsa, tabelas periódicas de elementos, máquinas de calcular científicas e sei lá o quê mais...

Antes de tudo, Jobs foi um visionário, não porque tenha descoberto algo de extraordinário, mas porque antecipou o que cada um de nós ia querer. E aqueles que ainda não tiveram na mão um iPhone ou um iPad que se precavenham. Mal lhe toquem ficam apanhados, como quase toda a gente. Nesse sentido há um antes e um depois de Jobs. Veremos se tem sucessores à altura.