ARQUIVO Homicídio de Carlos Castro

Defesa de Seabra diz que psicose começou com o crime

25 outubro 2012 10:22

"Acho que ele não tinha total perceção do significado dos eventos porque estava ao serviço do seu sistema de ilusões", afirmou um psicólogo contratado pela defesa de Renato Seabra.

25 outubro 2012 10:22

Jeffrey Singer, psicólogo clínico contratado pela defesa de Renato Seabra, admitiu ontem que pode ter sido o homicídio de Carlos Castro a despoletar a psicose diagnosticada ao jovem nos hospitais em que passou posteriormente.

Durante um duro interrogatório de perto de três horas a Singer, a procuradora Maxine Rosenthal procurou desmontar a conclusão do psicólogo, de que Seabra não teve consciência do violento homicídio de 7 de janeiro de 2011, por estar num estado psicótico, apresentando justificação para que seja considerado não culpado.

"Tirar vida de alguém pode ser o fator de tensão que leva a uma quebra psicótica?", questionou Rosenthal. O psicólogo clínico respondeu afirmativamente, mas mantendo que Seabra não podia avaliar as consequências dos seus atos. 

"Uma coisa é ser capaz de dizer 'eu estou a fazer isto', mas acho que ele não tinha total perceção do significado dos eventos porque estava ao serviço do seu sistema de ilusões", disse opsicólogo. "Mas ele sabia que estava a espancar Castro, não que estava a pisar numa almofada ou que estava a atirar um pó mágico.

"Pensamento delirante" 

Sabia que estava a espancar um homem, sabia que estava a matá-lo, queria que parasse de respirar, correto?", questionou a procuradora, aludindo também às mutilações genitais de que a vítima foi alvo. "Depende de como define apreciar, mas tinha perceção das atividades que estava a encetar", respondeu o psicólogo.

Escudando-se em relatórios de médicos que avaliaram o jovem em 3 unidades psiquiátricas, afirma que na altura do crime, o jovem "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordembipolar com caraterísticas psicóticas graves" e, como tal, não deve ser considerado culpado.

A defesa argumenta que foi a doença mental a levar ao crime, após o qual o jovem se passeou pelas ruas da cidade num estado de alucinação, tocando nas pessoas.

A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, diretamente ligada ao fim da relação.

Durante a manhã, Rosenthal sugeriu que Renato Seabra fingiu ter problemas mentais após encontros com o seu advogado.

Nas últimas duas horas, pôs em causa a conclusão de Singer de que tenha havido sinais da eclosão do episódio psicótico antes do crime, como ilusões, e sugeriu que a única prova nesse sentido éo próprio relato de Seabra ao psicólogo.

A procuradora lembrou ainda que duas testemunhas relatam que, após o jantar em que Seabra teve um comportamento estranho, propondo brindes quando o ambiente era de tensão à mesa, o jovem foipara casa em silêncio e que os vídeos de vigilância no hotel não mostram qualquer agitação.

Igualmente, disse, a videovigilância do Hotel Intercontinental da última refeição entre ambos mostra-os frente a frente, em silêncio. "Mas isso não mostraria o que se passa entre os ouvidos" de Seabra, contrapôs Singer.

A tese da procuradora é que não houve provas de loucura antes do crime e que aquilo que leva ao diagnóstico de psicótico ocorreu durante ou após o crime.

"Jovem ingénuo" 

Questionou também a caraterização, no relatório de Singer, de Seabra como "um jovem ingénuo" que durante a estadia em Nova Iorque se sentiu "aprisionado, sozinho e aterrorizado", levando à tensão que desencadeou a psicose, uma vez que este admitiu que mantinha uma relação com Castro apenas por interesse profissional. 

Para tentar demonstrar que houve consciência dos atos, Rosenthal citou também uma nota de 7 de maio de 2012, feita na ala psiquiátrica da prisão onde Seabra se encontra, em que o jovem diz que"está na prisão por ter feito uma escolha má". Sempre em formato de perguntas, levou o psicólogo a responder afirmativamente que pessoas com doença mental "tomam decisões e agem em consonância" e mesmo aquelas com psicose "podem diferenciaro certo do errado".

"Usou uma e outra vez o termo 'louco'. Mas alguém pode ser louco e saber distinguir o certo e o errado ainda assim. Uma pessoa pode fazer coisas loucas e saber que é errado fazê-las. Eindependentemente do número de vezes que se usa a palavra 'louco', o termo não satisfaz o critério de falta de responsabilidade ao abrigo da lei", disse.