ARQUIVO Fogo na Madeira

Especialistas alertam para a necessidade de repovoar área ardida na Madeira

23 julho 2012 15:45

Ex-diretora do Parque Natural da Madeira alerta para a necessidade urgente em "perceber que tipo de fogo afetou as localidades", já que é "necessário perceber até onde ele entrou no terreno e como afetou o solo"

josé ventura

Se a reflorestação das áreas ardidas não for feita na Madeira existem riscos reais de um novo 20 de fevereiro , numa alusão à destruição causada pelas fortes chuvadas em 2010.

23 julho 2012 15:45

A Madeira tem necessidade de atuar rapidamente na reflorestação das zonas afetadas pelos incêndios para evitar riscos maiores, alertam especialistas contactados pela Lusa. 

Miguel Carvalho é o responsável pela unidade de investigação "Germobanco", da Universidade da Madeira, uma estrutura que serve como 'cofre' das espécies indígenas da região e não tem dúvidas em afirmar que existem riscos reais de um novo 20 de fevereiro se nada for feito, aludindo à destruição causada pelas fortes chuvas em 2010. 

"Há problemas que poderão advir se houver precipitação ou chuvas intensas, nomeadamente o desprendimento de terras que poderão propiciar a situações idênticas às de 20 de fevereiro de 2010", considera o investigador. 

Miguel Carvalho explica que tudo se precipita dada a entrada nos terrenos queimados de espécies ditas "invasoras" para o meio natural da ilha. "As partes que entretanto ficaram queimadas e que agora estão limpas de vegetação, muito provavelmente irão ser rapidamente ocupadas por plantas de crescimento rápido e que geralmente são boas em termos de crescimento, boas em termos de produção de biomassa e, importante, boas condutoras de fogo se voltarmos a ter novamente uma situação de seca", alerta. 

O investigador madeirense referr um estudo recente da Universidade de Lisboa que indica que a perda de "precipitação nos próximos anos é de 37%, relembrando que a região "está a viver um período complicado em termos de água porque não choveu como devia". 

O responsável diz que "há ecossistemas atingidos, como os costeiros, e numa parte mais alta  (da ilha), sobretudo na Fonte do Bispo (Calheta) e Meia Serra (Santa Cruz), existiu também perda de urzal, ou seja, vegetação nativa de um ecossistema que é muito importante para a captação de águas". 

Outra investigadora, Susana Fontinha, ex-diretora do Parque Natural da Madeira, alerta também para a necessidade urgente em "perceber que tipo de fogo afetou as localidades", já que é "necessário perceber até onde ele entrou no terreno e como afetou o solo", para depois atuar. 

Para já, Susana Fontinha considera urgente "preparar os agro-sistemas porque as zonas outrora cultivadas, que estavam ao abandono, devem ser rapidamente recuperadas, quer nos muros de suporte quer para receber novas culturas", especifica.

A investigadora esclarece que a ideia é que "haja uma rápida ocupação do solo no bom sentido, ou seja, com produtividade", havendo também a necessidade de estar alerta em relação às linhas de água e "fazer uma correção torrencial de modo a que, se existirem deslizamentos, haja alguma contenção desse material que possa deslizar".