2 novembro 2010 16:27
Dilma Rousseff não quer ser vista como mera marioneta do seu antecessor, mas mantém as prioridades daquele, que lhe garantiram êxito. O analista Joseph Nye recomenda prudência na política externa.
2 novembro 2010 16:27
Eleita há dois dias, a nova Presidente do Brasil - que só tomará posse em janeiro - empenha-se em mostrar que não é apenas uma sombra do seu antecessor e apoiante Luiz Inácio Lula da Silva. Um desafio complicado, a julgar pela imprensa brasileira, que viu no triunfo de 31 de outubro (por 56% contra os 44% do social-democrata José Serra) uma vitória de Lula, quase sem mérito da própria candidata do Partido dos Trabalhadores.
Os primeiros sinais de Dilma não contribuem, porém, para a autonomia que almeja. A sua prioridade máxima é a de Lula: erradicar a pobreza, que hoje afeta 21 milhões de brasileiros. A vontade de controlar a despesa pública em nada prejudicará os programas sociais, prometeu no discurso da noite eleitoral. Recorde-se que Lula tirou 20 milhões de cidadãos da pobreza e elevou 30 milhões à classe média.
Brasil depende dos brasileiros
Dilma avisou que a economia do Brasil só crescerá se for puxada pelo próprio país, "com as nossas próprias políticas, o nosso próprio mercado, a nossa própria pujança e as nossas próprias decisões económicas". A Presidente-eleita pensa que o resto do mundo, imerso na crise, não poderá ajudar. O economista americano Joseph Nye concorda: "O caminho para o Brasil se fortalecer é doméstico. Se eu fosse o próximo Presidente, empenhar-me-ia aí", afirmou numa entrevista ao diário "Folha de São Paulo".
A Presidente rejeita, porém, tentações protecionistas. Promete manter aberto ao mundo o Brasil, que aliás tem criticado o protecionismo das nações mais ricas nos debates da Organização Mundial do Comércio. A estabilidade monetária é outra preocupação da nova Chefe de Estado, para quem "a lavagem de dinheiro e a especulação desmedida aumentam a volatilidade das moedas". Dilma defende regras para pôr fim à instrumentalização das divisas em guerras cambiais que podem fazer subir o real.
Pisando gelo fino no Irão
Nye mostra-se otimista e desvaloriza a alegada falta de carisma de Dilma. "Se mantiver as políticas que vimos na última década, o Brasil continuará sendo visto como um país importante." Mas a popularidade do atual Presidente pode, na opinião de outros, ser um entrave à afirmação de Dilma. "Inevitavelmente, ela decepcionará. Após dois mandatos, Lula tem o status de uma entidade divina no país", afirma o diário londrino The Guardian num editorial.
A apresentação internacional de Dilma terá lugar na cimeira do G20, em Seul, nos próximos dias 11 e 12. Ali acompanhará Lula, devendo os dois participar, antes da reunião, na inauguração de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique.
Para o perito americano, a colagem a Lula será positiva para uma dirigente pouco conhecida no globo. Deverá, porém, evitar erros cometidos pelo seu mentor, como a aproximação ao Presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. "Lula anda sobre gelo fino com o Irão. Ela, se andar sobre gelo fino, afunda", alerta. O diário Financial Times também se preocupa com o futuro do país: "O Brasil sem Lula pode ser tornar mais turbulento e menos popular, mas isso também poderia mostrar que o país está a tornar-se mais aberto, democrático e maduro".
Ministros ainda em segredo
Só quando regressar de viagem é que Dilma deverá anunciar os nomes dos seus ministros, dado essencial para configurar o novo equilíbrio de poderes. Um nome que todos esperam ouvir é o de António Palocci, que foi ministro das Finanças de Lula no primeiro mandato. Médico, economista e ex-trotskista, foi chefe de campanha de Dilma.
Outros ministeriáveis são Henrique Meireles, diretor do Banco Central, que manifestou vontade de trocar tal cargo por uma pasta governamental; Guido Mantega, atual titular das Finanças; Luciano Coutinho, antigo professor de Dilma e líder do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).
