13 outubro 2006 19:39
Os funcionários americanos em Lisboa registaram todo o tipo de episódios, confidências e segredos.
13 outubro 2006 19:39
Galvão de Melo visita o Brasil em Junho. O convite explica o general a um funcionário norte-americano é do país irmão e visa estabelecer contactos com os serviços secretos brasileiros, tendo em vista o seu auxílio aos esforços que Galvão de Melo está a fazer para criar o novo serviço de informações português, na sequência da extinção da DGS. O general deixa que o diplomata leia um relatório que apresentou à Junta de Salvação Nacional, sobre a instalação da democracia em Portugal.
Em Junho, Mota Amaral conta à embaixada dos EUA que foi contactado por Vítor Cruz, que lhe deu uma cópia do manifesto de um Movimento para a Independência dos Açores (MIA). Apresentado como um dos dirigentes do centrista PPD, Mota Amaral admite, a brincar, que se São Tomé e Príncipe vai ser independente, porque não os Açores?. Acrescenta que, dependendo do que vier a acontecer em Portugal, poderá valer a pena pensar na independência dos Açores. Quanto ao MIA, não deve ser levado a sério de momento.
O Governador geral de Angola reúne-se com os jornalistas quatro semanas após chegar a Luanda. Foi uma conferência de imprensa desastrosa, é como o cônsul dos EUA em Luanda descreve a prestação do general Silvino Silvério Marques. Utilizou uma linguagem enrolada, provavelmente ininteligível para a maior parte das pessoas. Foi embaraçoso ouvi-lo, acrescenta Everett Briggs, que inclui uma selecção das piores respostas aos jornalistas. É porventura, um dos telegramas onde mais se sente a opinião crítica do diplomata. O cônsul Everett Briggs conclui: Uma exibição muito triste, que ilustra a necessidade de substituir o Governador geral.
A cobiça dos árabes pela base das Lajes subjaz ao editorial do Expresso de 1 de Novembro que, nos termos de um resumo feito pela embaixada, sugere que a base aérea possa ser uma forma de os portugueses atrairem investimento árabe. A questão ganha relevância porque se aproxima a renegociação do acordo da base. Num almoço, Marcelo Rebelo de Sousa, editor do semanário, chama a atenção da embaixada para o facto de o editorial ter sido escrito pelo director, Pinto Balsemão, por sugestão do gabinete do Presidente Costa Gomes. A intenção, diz Marcelo, não é tanto aceitar a possível ajuda árabe, como alertar os EUA para as opções políticas do Governo português.
O PPD visita Departamento de Estado, em Washington, em Dezembro. Um memorando prepara Kissinger e os seus colaboradores para o primeiro encontro os dois principais dirigentes do partido. O texto começa por uma lição de fonética: Sá Carneiro deve-se pronunciar Sah Car Ney Row, enquanto Balsemão deve soar qualquer coisa como Bal Sey Maown. O objectivo de Carneiro é mostrar que Soares não é a única voz moderada em Portugal. No entanto, o memorando lembra a posição dos EUA: Não temos nenhum partido favorito em Portugal e ajudaremos todos os grupos políticos democráticos e pró-ocidentais.
Mário Soares sugere que o reconhecimento da independência da Guiné se realize a 12 de Setembro, dia do aniversário do líder do PAIGC, Amílcar Cabral (assassinado em 1973). A cerimónia, contudo, é antecipada para 10, por sugestão do próprio PAIGC. A explicação é dada a Soares pelo presidente da Argélia, onde foi assinado o acordo entre Portugal e a guerrilha da Guiné. Boumediene diz que foram os guineenses da delegação que vetaram o dia 12 porque, do seu ponto de vista, isso seria um elogio a um cabo-verdiano (embora nascido na Guiné, Cabral era cabo-verdiano). Para Soares, este é mais um indicador da gravidade da disputa racial no interior do PAIGC.