A nadadora Simone Fragoso ainda não competiu nos Jogos Paralímpicos Pequim2008, mas ganhou já o "título" de atleta mais baixa de toda a competição, e por isso "perdeu a conta" às fotografias para as quais já posou, tal é a curiosidade que desperta.

 "Na Aldeia Olímpica não consigo dar mais de dois passos sem que alguém venha ter comigo, a pedir para tirar uma fotografia, ou para me cumprimentar. Acham graça", diz, com um sorriso, garantindo que se "sente igual a todos os outros". Com 1,01 metros de altura, é normal ver Simone Fragoso passear na Aldeia Paralímpica de bicicleta "à pendura" do nadador David Grachat, ou a caminho do Cubo da Água, onde decorrem aos treinos, na cadeira de rodas ao colo de Perpétua Vaza.

Simone e David têm uma diferença de altura de 80 centímetros. Por isso, a nadadora do Benfica brinca: "Ele é o pai e eu sou a filha. Eu sei que devia ser ao contrário, porque sou mais velha, mas ele é muito, muito maior". A cumplicidade entre os dois vem de longe. Entre sorrisos lembram o dia em que depois de uma competição em Berlim decidiram dar uma volta e numa visita paga a uma torre, Simone passou sem pagar, por acharem que era uma criança. "Quando entrámos, a Simone ia de mão dada comigo, a senhora perguntou se era uma criança e eu, que a levava pela mão, disse que sim. Ela entrou sem pagar", conta David Grachat.

SOntem, na cerimónia da abertura dos Jogos, "cresceu" e muito, quando desfilou, de Bicas na cabeça, às cavalitas de David, uma imagem que teve direito a fotografia no jornal publicado diariamente na Aldeia Olímpica.

Simone Fragoso, que vai competir na classe S5, sabe que, devido à sua estatura, parte em "desvantagem" para as duas provas que vai disputar em Pequim, os 50 metros costas e livres, mas também sabe o segredo para resolver o problema. "As adversárias são muito maiores do que eu, por isso tenho que ter um bom trabalho de pernas, só assim vou conseguir. É isso que tenho estado a treinar", explica, admitindo que os nervos começam a apertar à medida que se aproxima o dia da estreia paralímpica.

Para aliviar a pressão e os nervos, sempre que pode, Simone, que se define como uma "pessoa alegre e expansiva", passeia à pendura de Grachat na aldeia olímpica, vai à sala de Internet, e pelo caminho... posa para as fotografias. A nadadora, de 28 anos, garante que o primeiro objectivo está conseguido: "a presença em Pequim", por isso tudo o que vier na estreia em Jogos Paralímpicos, "talvez uma final ou um recorde nacional, será muito bom".

Contratempos de ser baixinha

Na Aldeia Paralímpica, "do alto do seu 1,01 metros", Simone não encontra muitos problemas ao nível das infra-estruturas, e quando eles surgem há sempre quem dê uma "uma mãozinha". Mas às vezes os pequenos problemas tornam-se caricatos. Num dia de chuva, quando se preparava para ir jantar ao refeitório da Aldeia Simone foi obrigada a subir ao quarto para procurar um casaco...apenas porque os impermeáveis disponibilizados pela organização medem mais que ela própria.

Em Portugal, Simone garante que usa sempre a técnica do "desenrasca". É professora de música do ensino básico, conduz diariamente, um carro adaptado, onde leva sempre um banco, que usa para tarefas como levantar dinheiro nas caixas Multibanco, ou chegar aos balcões de um qualquer serviço de atendimento.

Quando se lhe pergunta quanto mede, a resposta é dada com um acento no "um" do centímetro que a faz ultrapassar o metro, para depois se ser informado de até cresceu um bocadinho após uma operação às pernas, "que estavam um pouco arqueadas".

A crista no cabelo, bastante curto e que já foi aparado no cabeleireiro da Aldeia Paralímpica, é "uma imagem de marca", que Simone exibe com orgulho e levanta" várias vezes por dia, mas que "com pena" não vai poder mostrar nas competições, "por causa da touca". Simone, que amanhã disputa a prova dos 50 metros costas, está, como todos os nadadores portugueses, maravilhada com o Cubo da Água, onde já treinou para os Jogos Paralímpicos, competição na qual já, mesmo sem competir, já se tornou famosa.

Jogos Paralímpicos 2008