ARQUIVO Corrida à presidência de Lisboa

Para ver em casa

13 julho 2007 0:01

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Para que servem as arruadas? “É uma marcação simbólica do terreno”, diz o politólogo André Freire. “É mais pela imagem. Há uma exibição da capacidade de mobilização e atrai-se a comunicação social”. Para o professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, as acções de rua são o reverso de um “recuo das formas mais tradicionais, como comícios e manifestações”.

Na rua, o eleitor está frente a frente com o eleito, olham-se de olhos nos olhos. A linguagem corporal é importante. Neste campo, para a psicóloga Mariagrazia Marini, cada caso é um caso. “É sempre uma questão recíproca”. Há truques que ajudam: “Um candidato que ao exprimir-se ‘fale’ com as mãos abertas incute no interlocutor mais garantias de confiança”. Um político que se mostre “espontâneo e natural passa mais facilmente a sua mensagem”, afirma a psicóloga italiana, desde há 20 anos em Portugal. Uma atitude “descontraída” gera empatia, mas o à-vontade do político não pode ser total. “Deve haver proximidade, mas não muita. Se uma pessoa não gosta de ser beijada, pode criar a rejeição do candidato”, acrescenta.

Dois episódios de campanha, mostrados na televisão, ambos presenciados no local pelo Expresso, são comentados por Mariagrazia Marini. No sábado dia 7 de Julho, na hora de almoço, em Campo de Ourique, a acção de rua do PS já estava terminada, os candidatos e apoiantes iam desmobilizando. Mas a banda que acompanhava António Costa ainda tocava. Ao aproximarem-se do Jardim da Parada, ouvindo a música, Helena Roseta e outros membros do movimento Cidadãos Por Lisboa começaram a cantarolar, não a letra original da marcha, mas uma adaptação, como um hino de campanha. “Helena Roseta começou a cantar e foi acompanhada por outras pessoas. O momento revelou empatia”, diz Mariagrazia Marini.

O outro episódio foi um quase incidente. Ao descer uma rua no Restelo, Carmona Rodrigues foi abordado por um popular, aos gritos, que vociferou insultos. O ex-Presidente da Câmara fingiu que não era com ele e seguiu em frente. “Fez o melhor que tinha a fazer: ignorar. E fê-lo sem mostrar hesitações, aparentando segurança. Num debate, tal atitude passaria por sinal de fraqueza. Mas tal como se passaram as coisas na rua, foi a atitude correcta”, sublinha a psicóloga.

José Marques, professor catedrático de Psicologia Social, duvida que “as pessoas votem em alguém por o terem encontrado na rua”. Salientando que as suas opiniões são “meras hipóteses de trabalho, pois resultam da observação pela TV, esboça um ‘ranking’ do carisma dos candidatos: Costa e Carmona na frente; depois Roseta; Negrão em quarto; e Ruben, Sá Fernandes e Telmo a fechar o pelotão. Mas a hierarquização é feita apenas segundo um princípio: “O indivíduos que mais se salienta, o que salta mais à vista”, afirma o professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Voltando ao princípio: para que servem as acções de ruas? Os eleitores são convencidos pelos políticos? “Isso seria fazer tábua rasa das convicções das pessoas. Por muito simpático que seja um candidato de esquerda, se eu for de direita muito dificilmente votaria nele - e o inverso é verdadeiro. Por muito boa que seja a imagem desse candidato”, diz José Marques.