13 julho 2007 0:02
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Fernando Negrão parece um erro de casting político. Alguns com quem se cruzou na rua podem até recordar-se do rosto. Mas devem ter ficado sem saber quem é. Por uma razão. Depois do Posso cumprimentá-lo?, e do aperto de mão, segue em frente sem dizer o nome ou distribuir um folheto.
O episódio espelha a difícil comunicação. No Bairro Quinta do Ourives, ao Beato, Negrão vence a retracção e aproxima-se de um menino: Como é que eu me chamo?. A criança não sabia, claro. No segundo dia de campanha, no sábado, só quase instado por um dos poucos acompanhantes é que o juiz avançava para cumprimentar alguém.
Negrão não é dado a jogos políticos. E mesmo noutros jogos, mostra o político que não é: entre paredes vá que não vá, mas em espaços mais abertos nem pensar... Na Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha, ao Lumiar, acedeu a uma partida de snooker. Mas já no Clube de Futebol os Unidos, no Bairro Padre Cruz, ilude a proposta para lançar a malha. Uns metros adiante, no intervalo de um jogo de futebol de salão, desafiado a marcar um pénalti para a fotografia, fintou o convite. E se era um daqueles golos fáceis... Horas depois, no Restelo, houve mais dinâmica, mas apenas porque o juiz estava envolvido por duas centenas de militantes da JSD, que entoavam cânticos e palavras de ordem.
A meio desta semana, no Príncipe Real, já com fanfarra a marcar o ritmo, mostrou mais à-vontade nos contactos, sorridente até, embora a espaços. E é tudo muito linear: entrar numa loja e meter dois dedos de conversa é um acontecimento. Noutro pormenor, Negrão também se distingue claramente dos seus adversários: é o candidato mãos-limpas. Literalmente. Vê-lo empunhar folhetos para oferecer é um raridade tal que mais parece um acidente.
Se o mundo das campanhas eleitorais lhe parece estranho, o partido pelo qual o independente Negrão se candidata mostra-se hostil. Às vezes prima pela ausência. No sábado à tarde, em visitas a bairros sociais, em ruas onde não se via vivalma, só Paula Teixeira da Cruz o acompanhou. Outra vez, alguém compareceu, mas para sacudir a nau laranja. Foi Pedro Passos Coelho, que usou uma acção de campanha como trampolim para atingir Marques Mendes. Teoricamente, um candidato independente supera as fronteiras do partido. Neste caso, no PSD, uma parte do partido esmaga o candidato independente.
Com tudo isto, na galeria das espécies políticas, Negrão só poderia ser aquilo que é: um ser atípico.
Iniciativas acompanhadas: dia 7, Beato, Lumiar, Bairro Padre Cruz e Belém; dia 11, Príncipe Real.