ARQUIVO Corrida à presidência de Lisboa

Carmona Rodrigues: uma pose de estadista

13 julho 2007 0:04

13 julho 2007 0:04

Os apoiantes do ex-presidente da Câmara entoam o cântico “Oh Carmona, mantém-te à tona!”. A avaliar pelos comportamentos do candidato, os receios de afogamento são infundados. Carmona Rodrigues cultiva um estilo que oscila entre o “low profile” e acções de rua espalhafatosas. Mas, em qualquer caso, paira sempre – é esse o seu esforço – acima das questiúnculas da campanha, como foram os casos Salgado e Júdice.

Carmona tem o melhor e o pior de quem saiu há pouco tempo do cadeirão do poder. Recebe a continência de polícias na Calçada da Ajuda; é saudado pelo condutor de um camião do lixo; minutos antes, fora insultado, em altos berros, no Restelo. Não se deteve. Estugou mesmo o passo e só abrandou quando mal se ouviam já os gritos. Na fuga para a frente, ignorou uma esplanada com mais de uma dúzia de mesas, com pessoas que estavam mesmo à mão para um contacto directo.

Os poucos diálogos mantidos são rápidos. Não é efusivo nem adepto de entrar em casas comerciais. Os apertos de mão são firmes. A logística oscila entre o pesado (um camião descoberto que debita o hino cantado por Toy), o ligeiro (diversos automóveis de dois lugares, com a foto do candidato estampada), as artes gráficas tipo "Contra-Informação dos Pobres" (fotos de Carmona, em tamanho real, recortadas, impressas em cartão, vestido com uma T-shirt da candidatura) e a marcha tonitruante (o arranque de uma concentração de motards, para um passeio por Lisboa, com o candidato à cabeça e Gabriela Seara como pendura).

O candidato teve também uma campanha “clandestina”. Além dos escassos contactos com populares participados aos jornalistas, diz que houve muitos outros. Manteve-os fora dos olhares dos ‘media‘ para evitar “comportamentos de rejeição ou de protagonismo” que certas pessoas desencadeiam quando vêem câmaras, luzes, acção. A ser assim, é o truque de ‘marketing’ desta estação: quando em muitas arruadas se percebe que elas só existem para serem mostradas na televisão, Carmona esconde parte das suas.

É uma carta tirada da manga, a poucos dias da votação. Como o foi a jogada feita junto a um recreio no Restelo, cheio de crianças. Encostou-se à vedação e meteu conversa. Mas não é com paleio que se seduz a pequenada. Como se tudo estivesse planeado, foi ao bolso e sacou de um balão: “Quem quer um vermelho?”; “e um azul?”. Deixou de falar da côr quando distribuiu um laranja.

Carmona adapta-se bem ao meio, parecendo levitar sobre ele. Mas pequenos gestos mostram que conhece bem o chão que pisa.

Iniciativas acompanhadas: dia 7, Cais Fluvial de Belém; dia 9, Restelo e Calçada da Ajuda; dia 10, Jardim da Estrela.