ARQUIVO Corrida à presidência de Lisboa

António Costa: 'One man show'

13 julho 2007 0:08

13 julho 2007 0:08

António Costa é o mais efusivo e versátil. Posa para a fotografia, com crianças e famílias, acena para cabeleireiras numa varanda, é o campeão nas entradas em lojas. Em restaurantes e cervejarias, nenhum empregado se livra de decidido aperto de mão. Na Baixa, em ruas pedonais, ziguezagueia para distribuir folhetos. Quase sempre é ele quem traça a rota da comitiva. Não precisa de apresentar-se: a fanfarra (a Bandinha) que anima e encabeça o desfile - alternando canções populares, como ‘Cheira a Lisboa’, com ‘hits’ do mundo, como 'La Vie en Rose' –, a sua ‘entourage’ e a profusão de cartazes precedem-no e dão-lhe publicidade.

Costa distribui cumprimentos à medida do interlocutor. A um engraxador, no Largo de São Domingos, pergunta: “Tá em boa forma?” Ao mesmo tempo, desfere vibrante ‘bacalhauzada’, com um movimento basculante repetido. O braço parecia na iminência de ser arrancado pelo ombro. Já a outro limpa-botas, ao lado, momentaneamente impedido de estender a mão, que exibia as marcas do trabalho, o candidato aperta, solícito, o antebraço. A uma apoiante, dá uns seguntos de atenção e uns beijinhos. Mais adiante, encontra um conhecido: o abraço é dado com estardalhaço. A jovens, o ‘shake hand’ é com o polegar ao alto e restantes dedos juntos, com pancada, de som cavo, na palma da mão. Na onda, portanto.

Na acções de rua, Costa não ganha apenas por ter a máquina mais profissional, ou por ter mais meios, ou por privilegiar locais onde circula muita gente, com ruas largas, em que pode movimentar-se melhor e as televisões têm mais planos para filmar... Costa ganha também porque, quando se dirige a alguém ou é interpelado, já ouve maiúde o epíteto de “Senhor Presidente”. As pessoas não lhe perguntam "o que faria": colocam-lhe problemas, fazem-lhe pedidos e aguardam deferimento. O povo sente o perfume do poder. O candidato socialista apela ao voto, é certo, até porque “não há eleições antecipadamente ganhas”. Mas no deve/haver dos pedidos de campanha, o saldo é positivo.

Sai de imprevistos com destreza. Tenta dar um folheto a um homem, bastante mais alto, que com ele se cruza. O transeunte ignora o candidato sem o mirar nos olhos, num acto de ostensiva indiferença. Costa encolhe os ombros, acena aos jornalistas e comenta, a sorrir: “Éste tímido!”. Noutro dia, alguém pede-lhe para ir a Moscavide. Responde: “Mas isso é no concelho de Loures!”. Gargalhadas gerais. Está atento aos pormenores. Ao chegar ao arco da Rua Augusta, abeira-se dos elementos da banda e diz: “Só a vocês é que ainda não apertei a mão”.

Iniciativas acompanhadas: dias 6 e 9, na Baixa.