Sector privado investe pouco na pesquisa da vacina contra o HIV

Cristina Possas acredita que o Brasil está no bom caminho

30 novembro 2007 16:19

Rui Martins, correspondente em Berna

A cientista Cristina Possas, chefe da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do programa brasileiro de vacinação está presente no Fórum de vacinas contra a Sida, em Abuja, na Nigéria, convidada pelo Programa Africano de Pesquisa de Vacinas contra o HIV.

30 novembro 2007 16:19

Rui Martins, correspondente em Berna

Cristina Possas acentua que o Brasil tem prestígio em todo mundo na questão da Sida pela sua política de acesso gratuito ao tratamento da doença. Na época da criação dessa política, diz Cristina, havia muita crítica, mesmo internacional, que achava ser o caminho errado, pois diziam que "o acesso universal aos medicamentos iria aumentar a resistência aos antiretrovirais. O Banco Mundial chegou a fazer uma projecção de que o Brasil teria 1,200 milhões infectados em 2002. Uma profecia que falhou, porque nessa época o Brasil só chegou à metade dos casos previstos".

Na verdade, afirma Cristina Possas, a resistência acabou sendo muito mais baixa que nos outros países, segundo artigos publicados em revistas científicas internacionais de prestigio, "pois a velocidade de propagação do vírus foi contida". Com isso, o Brasil economizou cerca de dois biliões de dólares (um bilião e trezentos mil euros), só nos primeiros anos.

"Uma vacina anti HIV, mesmo que seja parcial, poderá significar uma extraordinária economia de recursos, não só para o Brasil como para os países em desenvolvimento", destaca. Ao mesmo tempo, Cristina Possas quer deixar claro que "a maioria dos laboratórios farmacêuticos internacionais, com poucas excepções, não têm investido nas pesquisas para vacinas anti HIV. Esse investimento tem sido principalmente público, pois os laboratórios continuam a alegar falta de incentivos para tais pesquisas.

Sector público é quem mais investe

O maior investidor nas vacinas contra essa doença é o sector público americano através dos Institutos Nacionais de Saúde. Algo pouco conhecido e que Cristina Possas aproveitou para dar destaque. No sector privado existe apenas um laboratório que invista em vacinas e com o apoio do National Institutes of Health.

Quanto à situação no Brasil, possas está mais optimista: "O Brasil investe na pesquisa em vacinas e já existem diversos projectos seleccionados".

Para a cientista, o Fórum de Abuja é importante porque os países africanos vão lançar o seu plano quinquenal de vacinas. Por coincidência, o Brasil terminou agora seu plano quinquenal de vacinas anti HIV. "O nosso país é reconhecidamente pioneiro no lançamento desses planos, desde 1992, em parceria com a OMS e outros organismos internacionais. E, em Maio, será lançado o próximo plano de vacinas brasileiro", destaca Possas.

A investigadora comentou como o projecto mais avançado de vacina brasileiro, na fase 2B, foi interrompido, embora tenha sido muito importante em termos de provas de conceito e do desenho do estudo da pesquisa. "Ficou provado que não se precisa de estudos em larga escala, como o da Tailândia com 16 mil voluntários. Embora a pesquisa brasileira "não tenha eficácia, pois não protege, mostrou ser possível com número bem menor de voluntários chegar-se a conclusões".

Brasil aposta na vacina preventiva e na terapêutica

"A Sida é uma doença revolucionária, porque a complexidade do vírus lhe dá uma hiper variabilidade que torna complicado o desenvolvimento de uma vacina".

Cristina Possas conta que a pesquisa internacional tem investido em vacinas preventivas, mas que o Brasil aposta em vacinas terapêuticas, uma estratégia de imunoterapia. E está apoiando uma pesquisa de Luís (Lula) Arraaes, filho do antigo governador Miguel Arraes, que em conjunto com o pesquisador francês Andrieu, começou um projecto de vacinas terapêuticas, em desenvolvimento actualmente em Pernambuco.

"Trata-se de uma estratégia de imunoterapia individual, ao contrário da estratégia de massa das vacinas preventivas. Na fase 1, esse estudo mostrou aspectos interessantes, e "o Brasil decidiu apoiar essa pesquisa, pois se pudermos tratar individualmente os pacientes e impedir que a doença evolua, ou diminuir o ritmo de evolução da doença, haverá uma diminuição drástica no gastos com o tratamento. O Brasil procura participar nas duas estratégias - vacina preventiva e vacina tearapêutica".