João Gomes Cravinho sobre o tráfico de droga

Guiné-Bissau vive um "ciclo vicioso"

18 dezembro 2007 18:46

José Sousa Dias, da Agência Lusa

"Não vamos nem podemos imaginar que todos os guineenses estão envolvidos no tráfico de droga", afirmou João Gomes Cravinho na véspera da Conferência Internacional sobre o Narcotráfico na Guiné-Bissau, que decorre quarta-feira em Lisboa.

18 dezembro 2007 18:46

José Sousa Dias, da Agência Lusa

As palavras são do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português, João Gomes Cravinho, que, numa entrevista à Lusa, comentou o essencial da Conferência Internacional sobre o Narcotráfico na Guiné-Bissau, que decorre quarta-feira em Lisboa, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia.

"Portugal acompanha com grande preocupação a questão do tráfico de droga na Guiné-Bissau, onde existe uma emergência estrutural, em que, por um lado, há vontade e empenho político local, e, por outro, a vontade da comunidade internacional de lutar contra algo que também prejudica terceiros, inclusive o nosso país", sublinhou Gomes Cravinho.

Sem adiantar o montante com que Lisboa contribuirá para o fundo de 19 milhões de dólares (12,8 milhões de euros) previsto no plano a apresentar na conferência, pois o montante será divulgado no encontro, Gomes Cravinho garantiu, contudo, que será uma verba "significativa", pois há indícios de que a droga oriunda da Guiné-Bissau está a "aumentar significativamente" em Portugal.

Gomes Cravinho adiantou acreditar que o montante em causa será "facilmente aceitável", uma vez que, no seu entender, é "realista" face ao que está em jogo, razão pela qual afirmou crer que a credibilidade de Portugal, no pós-cimeira UE/África, em 8 e 9 de Dezembro últimos, trará "confiança" aos parceiros e doadores.

Questionado sobre a fraca confiança que a comunidade internacional deposita no governo guineense, nomeadamente no passado ligado a actos de corrupção, Gomes Cravinho lembrou que o plano a discutir em Lisboa tem também por objectivo lutar por essa confiança, insistindo que, para tal, será necessário apoiar financeiramente o projecto e haver uma concertação entre todos os envolvidos.

"Vive-se num ciclo vicioso. Há um plano e é preciso financiá-lo para que o país tenha estabilidade e crie os mecanismos de confiança para que a comunidade internacional possa ajudar a combater o narcotráfico e moralizar a política. É preciso estancar essas situações" [narcotráfico e má governação], observou.

"Não vamos nem podemos imaginar que todos os guineenses estão envolvidos no tráfico de droga. Vamos é apoiar quem está empenhado em lutar contra isso e este governo (liderado por Martinho N'Dafa Cabi) está", afirmou Gomes Cravinho.

No seu entender, é necessário apoiar o combate à criminalidade, reforçar o controlo dos fluxos migratórios e financeiros, adiantando que o problema tem de ser visto à escala regional, da África Ocidental, uma vez que não se centra apenas na Guiné-Bissau.

Por essa razão, em Fevereiro ou Março de 2008, será organizada num país dessa região uma conferência em que a questão será abordada de maneira mais vasta, tendo em conta que os problemas devem também centrar-se nos pontos de partida da droga, oriunda sobretudo da América Latina, e nos de destino, maioritariamente na Europa.

"Temos de ter a noção que a Guiné-Bissau é apenas um pequeno mercado, uma vez que não tem poder de compra para a droga. Mas temos de ajudar o governo guineense a reganhar o controlo de todo o seu território e a pôr cobro à vulnerabilidade com que se tem debatido", frisou o governante português.

"Mas há ainda bastante trabalho a fazer e, na reunião de Lisboa, já estarão especialistas de outros países, nomeadamente dos Estados Unidos, para ajudar a trabalhar nesse sentido, prevendo-se que, no próximo encontro, a participação seja ainda mais alargada", acrescentou.

Sobre a imigração ilegal, Gomes Cravinho salientou as "elevadas pressões" que fomentam os fluxos migratórios existentes em África, sublinhando que a imigração clandestina continuará enquanto houver desemprego e más condições de vida nos países mais desfavorecidos.

"O tráfico, seja ele do que for, é sempre lesivo para os países que estão envolvidos. Leva à corrosão das instituições e, no caso da Guiné-Bissau, as ilhas do arquipélago dos Bijagós (80, na maioria desabitadas), os fracos recursos humanos e financeiros e as frágeis instituições são factores a ter em conta", resumiu.