28 abril 2009 11:00
Há condições necessárias para as espécies evoluírem mas, se estas não existirem, a sua extinção poderá ser inevitável.
28 abril 2009 11:00
"Pergunte que os cientistas respondem" foi o repto lançado pelo Expresso aos seus leitores, a propósito da comemoração em 2009 da passagem dos 200 anos sobre o nascimento de Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução das Espécies através da selecção natural.
Hoje André Levy dá as respostas a duas questões que nos foram colocadas pelo leitor Manuel Teixeira. André Levy é investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e colaborador do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa.
Aproveitamos a oportunidade para renovar o convite aos nossos leitores para que nos enviem questões que desejem ver respondidas por cientistas ligados à evolução, para o endereço pergunteaoscientistas@expresso.impresa.pt
PERGUNTAS
1. Porque não existe evidência nos fósseis da evolução das espécies como seria de esperar se a evolução tivesse ocorrido?
2. E porque existem fósseis de espécies que não evoluíram?
Manuel Teixeira man_teixeira@hotmail.com
RESPOSTAS
1. No que consistiriam evidências fósseis de evolução? Poderiam ser formas de transição, intermédias entre espécies actuais, isto é, evidências de que as espécies actuais são fruto de um processo de transformação, tendo as espécies intermédias sofrido extinção.
Existem inúmeros fósseis que preenchem esta condição (veja o capítulo de Octávio Mateus, palentólogo português, no livro "Evolução: História e Argumentos", editado pela Esfera do Caos). Neste momento conhecem-se cerca de 142 géneros de dinossáurios terópodes fósseis percursores das aves actuais; e cerca de 32 géneros e 41 espécies fósseis de transição entre os mamíferos terrestres e os cetáceos, ou mamíferos marinhos.
No caso da nossa espécies, existe também já uma grande variedade de espécies de Hominidae, que são evidência de que entre o ancestral do chimpanzé e o Homem existiram várias espécies semelhantes ao Homem, onde se podem detectar, por exemplo, alterações graduais no tamanho e forma do crâneo.
Estes são apenas alguns exemplos de um inventário crescente de fósseis de transição entre espécies actuais. Darwin reconheceu que o registo fóssil seria necessariamente incompleto, já que nem todas as espécies (intermédias) poderiam originar fósseis, e que os investigadores poderiam também não ser capazes de os encontrar e reconhecer.
Mas desde a publicação de "A Origem das Espécies" em 1859, o espólio de fósseis, incluindo fósseis de transição, tem aumentado tremendamente devido a uma maior esforço de amostragem e a uma melhoria das técnicas para detectar e extrair fósseis.
Só que mesmo nos casos referidos, embora os fósseis revelem formas de transição consistentes com a evolução, são por vezes relativamente espaçados no tempo geológico, ou distantes geograficamente.

Pterosauro, o réptil voador que viveu no período Cretáceo e foi contemporâneo dos dinossáurios
Existem também casos de deposição geológica excepcionais em que podemos ver alterações no registo fóssil em camadas anuais. É o caso, por exemplo, de alguns lagos no Alasca, onde uma equipa liderada por Michael Bell analisou a variação morfológica do peixe Gasterostreus aculeatus (o esgana-gato) ao longo de vários milhares de anos.
Usando fósseis atribuíveis a anos específicos, esta equipa pode traçar a evolução morfológica gradual da forma marinha desta espécies para a forma lacustre, que possui, por exemplo, menos espinhas pélvicas. Assim, apesar das dificuldades criadas pelo processo de formação de fósseis, existem muitas evidências fósseis de evolução.
Evolução não é capacidade omnipotente
2. Uma espécie, ou população, quando confrontada com a alteração do seu ambiente, ao qual já não esteja adaptada, pode mover-se para um novo ambiente mais favorável ou pode adaptar-se ao novo meio.
Caso nenhuma destas possibilidades seja possíveis, a terceira possibilidade histórica é a espécie extinguir-se. Tal não constituiu uma refutação da evolução. A capacidade de as espécies evoluírem não é uma capacidade omnipotente.
Há condições necessárias para que tal suceda, incluindo o possuir variação genética que possa ser seleccionada de forma a que a espécie se adapte ao novo meio. Se não possuir esse potencial, e o número de indivíduos capazes de sobreviver e reproduzir for diminuindo no novo meio, a extinção dessa espécie poderá ser inevitável.
É o caso, infelizmente, de muitas das espécies ameaçadas pela acção do Homem, que vêem o seu habitat natural reduzido, fragmentado e modificado. O número de indivíduos destas espécies são reduzidos, o seu potencial genético também diminui, e estas espécies tenderão a extinguir-se.
Espécies que existem em grandes populações, com maior diversidade genética, caso por exemplo das bactérias ou muitos insectos, demonstram uma maior capacidade de adaptação a novos meios, evitando assim a extinção.
André Levy Investigador da Unidade de Investigação em Eco-Etologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) andre_levy@ispa.pt