23 fevereiro 2009 19:15
Antropóloga quer abrir o túmulo de D. Afonso Henriques para obter amostras de ADN e traçar o perfil biológico do primeiro rei português.
23 fevereiro 2009 19:15
Vive rodeada de ossos humanos, como a personagem televisiva da Dra. Temperance "Ossos" Brennan, inspirada nas aventuras da antropóloga forense Kathy Reichs. Lê-os de uma perspectiva evolutiva, mas também em contexto forense.
É desde há 11 anos consultora de antropologia forense do Instituto Nacional de Medicina Legal, ajudando a determinar a causa da morte em alguns casos, e tem colaborado com a Liga dos Combatentes na identificação de militares mortos na Guerra da Guiné.
Em Março, por exemplo, regressa a este país africano de língua portuguesa para mais uma missão de exumação e identificação de restos mortais enterrados no cemitério de Farim.
É ela também a antropóloga que pretende abrir o túmulo de D. Afonso Henriques para obter amostras de ADN que lhe permitam traçar o perfil biológico do primeiro rei português, projecto recusado em 2006 pela então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima.
A área forense é apenas o interesse mais recente desta investigadora que, há 23 anos, usa os ossos para estudar a evolução humana.
"Os ossos humanos são o que de mais real existe do nosso passado. E o facto de guardarem muitas informações sobre as pessoas a que pertenceram e do modo como interagiam com o meio ambiente, faculta-nos um meio insubstituível de conhecer a nossa história evolutiva", afirma a cientista ao Expresso.
O esqueleto, explica, "ao fazer a ponte entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos", fornece um elemento imprescindível "para se conhecer a nossa própria história natural".
A análise de ossos provenientes de várias épocas, "do Mesolítico ao presente", permite-lhe, por exemplo, traçar a evolução das características morfológicas, do estado geral de saúde e das dietas dos nossos antepassados.
Um dos locais privilegiados para este trabalho tem sido nos concheiros Mesolíticos de Muge, no Baixo Vale do Tejo, um dos mais importantes sítios pré-históricos de Portugal. Aí "continuam a ser recuperados esqueletos humanos" que fornecem pistas importantes sobre "o período crucial da Humanidade em que deixou de ser nómada para se tornar sedentária".
* Professora Catedrática de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) * Consultora Nacional para a Antropologia Forense do Instituto Nacional de Medicina Legal * Presidente do Departamento de Antropologia da FCTUC e do Grupo de Estudos em Evolução Humana (GEEV) * Doutoramento em Ciências, especialidade Antropologia, em 1994 * Co-editora do livro lançado no mercado internacional com o título "Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death" * Autora de uma dúzia de capítulos de livros científicos internacionais de referência e de 25 artigos publicados em revistas científicas internacionais de referência * Já orientou 14 teses de doutoramento e mais de 40 teses de mestrado