25 novembro 2010 18:24
O ator António Fonseca anda há dois anos e meio a decorar Os Lusíadas, e começa hoje no Teatro Meridional a apresentar os primeiros cinco cantos da obra prima de Luís Vaz de Camões. Uma epopeia que só deverá acabar a 10 de Junho de 2012, data em que espera dizer de uma só vez os dez cantos.
25 novembro 2010 18:24
António Fonseca irá por agora e durante um mês - de quarta às sextas às 21:45 e aos sábados a partir das 17:00 - apresentar os primeiros cinco cantos de Os Lusíadas, numa versão mais reduzida à semana e a integral ao sábado.
No dia 10 de Junho de 2012, Dia de Portugal e data em que se comemora os 440 anos da primeira edição de Os Lusíadas, espera dizer os 10 cantos durante todo o dia, uma tarefa hercúlea, a que se tem dedicado desde Junho 2008 e que obriga o ator a estar em grande forma física.
"Há mais de dois anos sonhei dizer os Lusíadas de cor. A ideia foi-se-me impondo. (...) Comecei verso por verso, estrofe por estrofe, episódio por episódio, canto por canto. Foi-se-me revelando uma grande estória da vida, uma grande estória da condição de ser humano, uma metáfora enorme da nossa condição de seres históricos, em qualquer sítio, em qualquer contexto cultural, em qualquer tempo", diz no seu blogue, onde explica por que se decidiu pegar na obra prima de Luís Vaz de Camões.
"Foi uma ousadia", como o próprio reconhece em declarações ao Expresso. E que lhe tem ocupado todas os momentos livres desde que começou a pensar na ideia. Até porque, sublinha António Fonseca, desde 2008 já fez 7 peças de teatro, deu aulas, fez novelas e séries televisivas.
"Para já fica uma antologia dos cinco cantos, com os episódios mais significativos: o Consílio dos Deuses, a passagem na Ilha de Moçambique, a traição dos Mouros em Mombaça, a visita de Vénus a Júpiter e as queixas que lhe faz, a chegada a Melinde, a batalha de Ourique, o episódio da Inês de Castro, os preparativos e a batalha de Aljubarrota, a despedida da Armada em Belém (e não só o velho do Restelo), os fenómenos marítimos, o Fernão Veloso, o Adamastor e o escorbuto", avança Antónioo Fonseca.
A MEMÓRIA DE ADOLESCÊNCIA
"Os Lusíadas evocavam uma memória recorrente da adolescência: um livro truncado com muitas reticências, uma misturada de sentidos que não acabavam, muitos sublinhados a lápis e, sinceramente, uma total ausência de noção da obra. Entre esta memória, que não posso dizer que fosse grata, e tudo o que fui acrescentando ao longo do tempo sobre o lugar e importância da literatura na vida e o papel dos Lusíadas no nosso imaginário coletivo, foi crescendo uma curiosidade e uma vontade de conhecer verdadeiramente a partitura poética da Epopeia", confessa.
"Sentia-me algo culpado por desconhecer uma obra que é matriz da nossa memória, tantas vezes e de tantas maneiras utilizada para fins patrióticos e patrioteiros, que na intimidade de quem passou pela experiência da sua abordagem obrigatória causa um misto de fascínio e ódio, que ninguém pode verdadeiramente dizer que não conhece mas que quase ninguém conhece verdadeiramente", acrescenta.
Além de interpretar Os Lusíadas, António Fonseca irá também fazer comentários em determinados versos, porque na realidade o ator também quer fazer uma atualização da obra e não fazer uma coisa arqueológica. Cada canto demora a dizer cerca de uma hora e haverá intervalos entre eles e os espetadores podem ver os cantos em dias diferentes, não precisam de ver tudo de uma vez.
Depois de apresentar a obra em Lisboa, a intenção de António Fonseca é fazê-lo pelo país e em escolas, se surgirem convites nesse sentido. O ator já está a preparar o sexto canto e espera começar no final de 2011 o décimo.