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Kaurismäki de manhã, Pedro Costa e Wang Bing à tarde, Víctor Erice ao anoitecer, “Cerrar los Ojos” é extraordinário: há dias assim em Cannes

Alma Pöysti e Jussi Vatanen em “Fallen Leaves”, de Aki Kaurismäki
Alma Pöysti e Jussi Vatanen em “Fallen Leaves”, de Aki Kaurismäki
DR

Com o concurso pela Palma de Ouro a meio, o cineasta finlandês leva a preferência com “Fallen Leaves”. Kaurismäki é o grande realizador romântico do que resta da classe operária. Mas Cannes deve muito ao que está a aparecer das secções laterais: uma excelente curta de Pedro Costa é “teste” para projeto futuro, Wang Bing vinga em documentário um compositor chinês proscrito no seu país. E depois chegou “Cerrar los Ojos”, de Víctor Erice. Filme de espectros e de revelações. É portentoso. Há três décadas que o espanhol não realizava uma longa-metragem. Este é o filme em que a atriz Ana Torrent volta a dizer “Soy Ana”, exatamente cinquenta anos passados desde “O Espírito da Colmeia”.

Francisco Ferreira, em Cannes

A vida em Cannes não é fácil. Há 21 filmes na competição, muitos mais nas secções satélite e alguns são indispensáveis, pese embora a certeza de que é fisicamente impossível ver tudo. Mas há dias em que a frustração e o cansaço dão lugar ao maior entusiasmo e, chegado o concurso a meio, houve um desses dias de júbilo. Uma projecção matutina de imprensa trouxe-nos “Fallen Leaves”, que vinha sinalizado pelos raros que o viram como uma continuação da “trilogia do proletariado”, a saber: “Sombras no Paraíso” (1986), “Ariel” (1988) e “A Rapariga da Fábrica de Fósforos” (1990). Nada de espantar que Aki Kaurismäki volte ao assunto porque os derrotados da trilogia não acabaram: pelo contrário, cresceram. Nada de espantar do cineasta que tantas vezes disse gostar de “trilogias com quatro filmes” e ainda há pouco, no mês passado, desceu da casa que tem em Viana do Castelo para a segunda retrospetiva da sua obra na Cinemateca Portuguesa!

Há uma variação assinalável em “Fallen Leaves” ligada ao mundo de trabalho filmado por Kaurismäki nos anos 80: é que o trabalho está muito mais precário. Hoje despede-se por dá cá aquela palha, assim como quem troca de camisa. Pelos mais absurdos motivos, lá vai a estabilidade de uma vida para a sarjeta. E ganha-se menos, muito menos, face ao custo das coisas, que o diga Ansa, papel de Alma Pöysti, atriz que ocupa aqui o lugar que outrora pertenceu a Kati Outinen na obra de Kausimäki (era ela a rapariga da fábrica de fósforos, por exemplo).

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