Quem é capaz de fazer um filme em dois dias? O 48 Hour Film Project regressa este fim de semana a Lisboa
Gravação final, de madrugada, de "O Segredo dos Pássaros"
Madalena Braz de Oliveira
A competição de curtas-metragens 48 Hour Film Project acontece em Lisboa, entre esta sexta-feira e domingo, e já conta com um número de inscrições recorde. Aqui, a criatividade cinematográfica é testada ao limite
O 48 Hour Film Project, que acontece em mais de cem cidades espalhadas pelo mundo, incluindo Lisboa, é uma competição cinematográfica em que as equipas inscritas terão de produzir de raiz, em 48 horas, uma curta-metragem que tem de ter entre quatro e sete minutos de duração. O evento foi criado nos Estados Unidos da América, em 2001, e chegou a Portugal em 2009. Este ano será realizado entre esta sexta-feira e domingo.
No primeiro dia, os participantes serão apanhados de surpresa com o género da sua curta, que será sorteado. Terão também de incluir no seu projeto uma personagem com determinadas características, um objeto e uma frase, sendo que estes três elementos serão comuns a todas as equipas. Todas estas informações são reveladas no arranque da competição.
Equipa na fase de gravação da sua curta-metragem
Segundo Ricardo Mendes, produtor do evento na cidade de Lisboa desde 2017, este ano já existem mais de 30 equipas inscritas, o que representa um recorde. Todas as curtas-metragens a concurso serão exibidas no cinema São Jorge nos dias 15 e 16 de maio. A entrega dos prémios será dia 21, no Musicbox, em Lisboa.
O júri oficial, composto por parceiros e antigos participantes, irá avaliar e escolher a grande vencedora que vai representar Lisboa na competição internacional Filmapalooza, em que entram as curtas vencedoras de todas as cidades em concurso, podendo até mesmo chegar ao Short Film Corner do Festival de Cannes. Pela primeira vez desde a criação deste evento, será a capital portuguesa a acolher a competição internacional, entre 20 e 23 de março de 2024.
Há ainda o prémio resultante da votação do público que está presente no cinema São Jorge e prémios nas mais de 20 categorias, entre elas melhor ator, edição, entre outras.
Durante a pandemia, apesar das restrições, o evento manteve-se e aconteceu de forma híbrida, entre online e presencial. “Conseguimos manter uma coisa que para nós era essencial, que era que as estreias dos filmes fossem feitas presencialmente no São Jorge, com muitas limitações, mas conseguimos”, afirma Ricardo Mendes.
Visionamento de curtas-metragens no festival internacional Filmapalooza
Um trabalho de equipa
André Galhofa Louro tirou, em 2017, o curso de Cinema e Televisão na Escola de Tecnologias, Inovação e Criação (ETIC) e, em 2022, foi produtor da equipa ONZEPONTOUM, que concorreu ao 48 Hour Film Project com a curta “O Segredo dos Pássaros”, conquistando o prémio do público. Assim que obtiveram todas as informações, “a equipa de argumentistas começou logo a trabalhar”, ao mesmo tempo que André e a realizadora começaram a pensar em localizações de gravação: "Utilizámos o Google Maps para ir vendo sítios que pensámos que podiam ser apropriados”.
Em relação a contratempos houve “várias coisas" que logo desde o arranque “não correram bem”. "Uma das atrizes não apareceu”, conta André. “Nós tínhamos a base no Saldanha e estávamos a gravar numa casa no Oriente, então as deslocações complicaram-se bastante, porque havia várias estradas cortadas e lembro-me que isso dificultou a chegada de comida e de alguns assistentes de produção”, acrescenta.
Madalena Braz de Oliveira, atualmente a finalizar o mestrado em Arquitetura e com uma grande paixão por fotografia, meteu o pé no mundo do cinema devido ao convite de André, tendo sido fotógrafa de cena na equipa de 2022. Em 2023, juntamente com alguns membros da equipa do ano anterior e outros novos, criou a ORA.HAGÁ e vai competir desta vez como produtora.
Diz ser "importante gerir expetativas entre toda a gente na equipa” e a preparação e estratégia fazem a diferença: “Pensando na organização que se pode ter, como há tantos detalhes que nós só sabemos no dia, tudo o que puderes fazer de trabalho antes, facilita”.
Preparação dos atores da equipa ONZEPONTOUM
Madalena Braz de Oliveira
André e Madalena partilham a opinião de que o facto de o festival internacional, Filmapalooza, ser realizado em Portugal muda muita coisa. "De repente imensos profissionais, produtores, atores, músicos, todo o universo do cinema mundial pode vir para aqui, e eu acho que as pessoas vão ficar curiosas e de certeza que vão interessar-se e pesquisar mais pelo festival em si”, afirma Madalena.
Em relação à visibilidade do 48 Hour Film Project, consideram que a produção “faz um excelente trabalho”, mas “todo o projeto e todo o festival em si mereciam ir mais longe”, complementa André. A líder da equipa ORA.HAGÁ diz que o maior objetivo é ficarem “orgulhosos do trabalho” realizado e fazer contactos: “Há participantes que nunca se iriam conhecer de outra maneira e acabo por conhecer profissionais, uns que estão a começar e outros mais velhos, que já têm experiência”.
Equipa do ONZEPONTOUM na primeira localização de gravação
Madalena Braz de Oliveira
Ricardo Mendes, o produtor do evento em Lisboa, diz que “ainda existe muita margem para crescer”: "Se tivermos melhores condições para as equipas, a adesão das mesmas é maior, logo o festival cresce de uma forma quase automática. O crescimento do número de equipas, acreditamos nós, leva também a um aumento de interesse por parte de marcas e empresas”.
No próximo ano, o objetivo principal é “estabilizar” a adesão das equipas e diz acreditar que o “nascimento de uma competição idêntica nujma nova cidade pode ser um dos caminhos”. “Portugal tem capacidade para ter dois 48HFP em simultâneo, em datas distintas, como é óbvio”, sublinha.
Texto de David José Carvalho, editado por João Pedro Barros
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