Sublime e infernal, o dramma giocoso de Mozart, “Don Giovanni” (1787), é talvez a ópera de repertório mais difícil de produzir. Não me refiro apenas ao canto e às psicologias complexas das personagens. Como conciliar os acordes fatais da abertura e a punição infernal do protagonista dissoluto com a tónica jocosa? A trama é shakespeariana com a sua mescla de classes sociais tratada de modo trágico-comico-historico-pastoral (como diria Polonius). Encenar eficazmente “Don Giovanni” é fazer a quadratura do círculo. Ora — como Leporello diz a Donna Elvira antes da ária do catálogo — “Il quadro non è tondo” (o quadrado não é um círculo). Assisti, porém, ao milagre impossível na produção do belga Ivo van Hove para a Met. Assegurada a presença do genial Peter Mattei — que em fevereiro nos deslumbrou na Gulbenkian com uma “Winterreise” antológica — primus inter pares num elenco a tocar o ideal, restava procurar a unidade na diversidade, o que foi plenamente conseguido: um espetáculo que marca a história de “Don Giovanni”, isto é, a história da ópera.
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