Peter Sloterdijk está em Lisboa para o concerto dos 18 anos dos Músicos do Tejo
Adam Walanus
Um dos mais importantes filósofos alemães veio a convite dos Músicos do Tejo, que celebram ‘a maioridade’ num concerto a realizar-se esta sexta-feira na Academia das Ciências. São 45 músicos em palco, entre o clássico e o popular. No final, Peter Sloterdijk toma a palavra
Esta sexta-feira às 19h, o público da Academia das Ciências, em Lisboa, contará com uma presença especial: o filósofo alemão Peter Sloterdijk, que veio a Lisboa só para lá estar. É o convidado de honra de um concerto também ele fora do vulgar, que celebra os 18 anos — a maioridade — do agrupamento Os Músicos do Tejo. Música e filosofia juntam-se, deste modo, num evento que homenageia ambas. Ouvir-se-á de tudo um pouco, do barroco a Selma Uamusse, e no fim espera-se que Sloterdijk tome a palavra, ele que é, aos 77 anos, um dos maiores filósofos europeus vivos.
O “Concerto da Maioridade”, assim se chama o encontro filosófico-musical, vem recordar que apenas lá se chega com alguma obstinação. Criado em 2005 pelos cravistas Marta Araújo e Marcos Magalhães, Os Músicos do Tejo tiveram um grande impulso em 2008, quando António Mega Ferreira, na altura presidente do CCB, os convidou para realizarem a ópera “La Spinalba”, de Francisco A. de Almeida.
Thomas Kost
Seguiram-se mais quatro óperas no mesmo contexto, assim como numerosos concertos que privilegiam o património musical português. De tudo isso surgiram entretanto seis CD's: “Sementes do Fado” (2008), “As Árias de Luísa Todi” (2010), “La Spinalba” (2011), “Il Trionfo d'Amore” (2015), “From Baroque to Fado” (2017) e “Il Mondo della Luna” (2020).
“Para nós, um dos principais eixos tem sido a valorização do património musical português que é importantíssimo a nível mundial. Interpretar e gravar com cantores e instrumentistas portugueses com alta qualidade artística e difundir esses registos a nível internacional”, explicam ao Expresso os diretores deste grupo, que tem contado com o apoio da câmara de Lisboa, da DGArtes, do BCP e da editora Naxos.
No entanto, além da divulgação da música antiga, eles cedo perceberam o desejo “de estar atentos ao mundo atual e não operar numa perspetiva meramente museológica”. Para Marta Araújo e Marcos Magalhães, é importante “estar atentos ao que se faz hoje em dia” — e, nesse sentido, os pressupostos da música antiga podem ajudar. “Descobrimos que uma perspetiva alicerçada no rigor da música antiga, é uma boa forma de criar projetos inovadores. Tudo isto exige um trabalho de questionamento, investigação e criatividade para que as nossas atuações abram novos momentos de emoção e pensamento musical”, salientam.
No concerto, haverá 45 músicos em palco. Destes, 14 instrumentos, entre os habituais ‘clássicos’ e uma guitarra portuguesa. Conta-se também com a atriz Carla Vasconcelos, e com com vários cantores, vindos de quadrantes diversos: do campo lírico, como Luís Rodrigues, Sandra Medeiros, Emanuela de Rosa, Mariana Caldeira Pinto, Joana Seara, Carolina Figueiredo, Sérgio Fontão e Carlos Monteiro, entre outros, ao popular, como Selma Uamusse, Karyna Gomes, Elizabeth Pinard, Anastácia Ramos Carvalho e Marco Oliveira.
A transversalidade é evidente, e mais ainda se incluirmos Peter Sloterdijk na ementa. Questionados sobre a razão por que o escolheram, Araújo e Magalhães são perentórios: “Pensamento crítico, capacidade de ver além das barreiras conceptuais, culturais e tradicionais entre as pessoas, emoção e amor pela beleza e exigência ética são valores muito importantes para nós e que também encontramos na vida e na obra deste autor. Graças às traduções da Relógio d'Água, lemos já vários livros da sua autoria e conhecemos outros documentos através da internet. Foi uma honra o professor ter aceitado o nosso convite (já há muito tempo, antes da pandemia) e por isso lhe estamos muito gratos.”
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