7 abril 2023 23:03

A seca do bacalhau em Aveiro, nos anos 30
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“Arquitectura do Bacalhau e Outras Espécies” é uma viagem magnetizante à volta de um tema inesperado, explorado com a filigrana, rigor e paciência das grandes narrativas
7 abril 2023 23:03
Há uma arquitetura do bacalhau? Mesmo se é evidente a impossibilidade de um peixe construir edifícios, podem as suas características biológicas ser causa geradora de arquitetura? Enunciadas no prólogo, aquelas duas questões, sem esgotarem o vasto conjunto de outras interrogações a elas associadas, impõem-se como ponto de partida para uma viagem magnetizante à volta de um tema tão inesperado, quanto explorado com o rigor, a paciência, e a filigrana com que se tecem as grandes histórias.
Embora a seriedade própria da academia nunca abandone um texto acompanhado de fotografias, plantas e desenhos de arquitetura, a sua leitura evolui através de um imenso fresco com fascinantes histórias da arquitetura e da sua relação com algumas espécies piscícolas, e de como à sua volta foi sendo construído um discurso arquitetónico com ramificações económicas, sociais e até políticas. A bênção dos bacalhoeiros em Belém é disso paradigmática. Iniciada nos anos de 1930 e só terminada já após o 25 de abril de 1974, constituía uma dos grandes momentos de exaltação patriótica explorada pelo regime de Salazar. O bacalhau, mais do que um peixe, funcionava como metáfora de uma heroica gesta nacional, só ao alcance dos mais estoicos e bravos dos portugueses. De tal ordem que Portugal foi o único país a manter as campanhas de pesca ao bacalhau durante a II Guerra Mundial. Mas essa seria, se se quiser, uma outra arquitetura para o bacalhau.