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Salman Rushdie publica uma foto, um livro chamado "Victory City" e quer dançar até cair

Salman Rushdie, numa imagem partilhada pelo próprio no Twitter esta terça-feira
Salman Rushdie, numa imagem partilhada pelo próprio no Twitter esta terça-feira
D.R.

No momento em que é lançado o seu 25º romance, o escritor deu a primeira entrevista após o ataque brutal de que foi vítima em agosto passado. “Ao longo destes anos, esforcei-me muito para evitar a recriminação e a amargura. Acho que não fica bem", disse à revista americana “New Yorker”. O livro sai em Portugal em outubro, sob a chancela da Dom Quixote

A imagem que primeiro se instala é a da Fénix a renascer das cinzas. No caso de Salman Rushdie, ter sobrevivido ao ataque brutal de que foi vítima em agosto para, agora, o poder contar roça o domínio do improvável. E no entanto lá está ele, com os óculos de sempre, a fitar-nos com só um olho, a outra lente vedada a preto diante do olho que cegou; e lá está o semi-sorriso do resistente que há décadas tem a cabeça a prémio, mas contorna a morte com precisão de atleta de alto rendimento. Não admira que a entrevista que o escritor indiano-britânico deu esta segunda-feira à “New Yorker”, a primeira desde o atentado, se intitule “A desobediência de Salman Rushdie”. Ele desobedece, sempre. É um rebelde com causa.

“Sabe, já estive melhor. Mas considerando o que aconteceu, não estou assim tão mal. Como vê, as feridas maiores sararam”, disse ao jornalista David Remnick, que conversou com ele para a prestigiada revista norte-americana e a quem contou, entre outras coisas, que lhe custa escrever — “tenho sentido muita dificuldade. Sento-me e nada acontece. Escrevo, mas é uma combinação de obcuridade e lixo, coisas que escrevo e apago no dia seguinte. Ainda não saí dessa floresta, na verdade”. Rushdie confessou também que, de noite, lida com pesadelos, “não exatamente sobre o incidente, mas sobre o medo”. “Mas estou bem, capaz de me levantar e caminhar. Quando digo ‘bem’ isso significa que há partes do meu corpo que necessitam de atenção constante. Foi um ataque colossal.”

À “New Yorker”, o autor de “Versículos Satânicos”, que em 1989 lhe valeu uma fatwa do Ayatollah Komehini graças à qual passou décadas ameaçado de morte e a viver sob proteção policial, disse que sempre tentou fugir do papel de vítima. Quando, no virar do milénio, se mudou de Londres para Nova Iorque, recusou-se a continuar a ter guardacostas. Durante vinte anos, baixou a guarda. Foi isso um erro? “Bom, interrogo-me sobre isso, e não sei qual é a resposta. De facto, tive vinte anos de vida. Então, terá sido um erro? Escrevi também muitos livros. Os ‘Versículos Satânicos” era o meu quinto livro publicado, o meu quarto romance, e este é o 25º. Por isso, desde a fatwa passara-mse três quartos da minha vida como escritor. Não podemos arrepender-nos da nossa vida.

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