Cultura

Ruben Östlund despachou outra vez a concorrência nos Prémios do Cinema Europeu

Ruben Östlund despachou outra vez a concorrência nos Prémios do Cinema Europeu
Getty Images

“Triângulo da Tristeza” estava nomeado para quatro categorias principais e venceu este sábado outras tantas estatuetas na cerimónia da Academia Europeia de Cinema, em Reiquiavique

Em 2017, o sueco Ruben Östlund já havia conquistado uma contundente vitória nos Prémios do Cinema Europeu por “O Quadrado”. Repetiu esta noite a façanha em Reiquiavique, na Islândia, a capital mais setentrional do mundo, graças a um dos mais polémicos filmes do ano e que tem caído um pouco por todo o lado nas boas graças do público: “Triângulo da Tristeza”. Os votantes da Academia voltaram, portanto, a eleger como Melhor Filme o vencedor da Palma de Ouro de Cannes (o mesmo já acontecera com “O Quadrado”).

No palco do Harpa, a mais moderna sala de espectáculos islandesa, “Triângulo das Tristeza” triunfou ainda nas categorias de Melhor Realizador, Melhor Argumento (da autoria do cineasta) e Melhor Ator. Este último prémio distinguiu o intérprete croata-dinamarquês Zlatko Burić, que interpreta na obra um oligarca russo, capitalista assumido, a bordo de um cruzeiro de luxo capitaneado por um marxista alcoólico. Note-se que o filme de Östlund já foi visto em Portugal por 25 mil espectadores e continua em exibição no país, dois meses após a estreia (facto infelizmente raro hoje em dia, e ainda mais para um filme europeu).

O vencedor desta 35ª edição superiorizou-se assim a “Corsage – Espírito Inquieto”, da austríaca Marie Kreutzer (este retrato feminista e fantasista da Imperatriz Sissi acabou de estrear-se nas salas), “Close”, do belga Lukas Dhont, “Holy Spider”, do dinamarquês de origem iraniana Ali Abassi e “Alcarràs”, da espanhola Carla Simón. Note-se que os quatro primeiros foram apresentados a concurso e fizeram a sua estreia mundial no último Festival de Cannes. A luxemburguesa Vicky Krieps ficou com a estatueta de Melhor Atriz pelo papel protagonista do supracitado “Corsage – Espírito Inquieto”.

“Interdit aux chiens et aux italiens”, longa-metragem de Alain Ughetto revelada no verão em Locarno, foi a Melhor Animação europeia. O prémio de Melhor Documentário foi atribuído a “Mariupolis 2”, do lituano Mantas Kvedaravicius, que morreu no início de abril em Mariupol, na Ucrânia, durante a rodagem deste filme. A sua filha recebeu a distinção póstuma. Já o Prémio Fipresci para Melhor Descoberta Europeia do Ano foi atribuído a “Piccolo Corpo”, primeira longa-metragem da italiana Laura Samani.

A Melhor Curta-Metragem foi para “Granny's Sexual Life”, animação franco-eslovena das cineastas Urska Djukic e Emilie Pigeard. Sublinhe-se que nesta categoria concorria o fenomenal “Ice Merchants”, de João Gonzalez, em representação portuguesa.

“O Bom Patrão”, de Fernando León de Aranoa, filme exibido em Portugal no início deste ano, com um belo papel de Javier Bardem, foi eleito a Melhor Comédia europeia.

Este foi também o ano do Film4Climate, um novo prémio criado pela Academia para sublinhar uma obra com consciencialização ambiental. E os produtores de cinema da Ucrânia, impossibilitados de desenvolver o trabalho com a chegada da guerra, não foram esquecidos na cerimónia.

Elia Suleiman, o mais ilustre dos cineastas contemporâneos da Palestina, foi homenageado com um prémio honorário à carreira. É um autor que, apesar da sua origem, tem uma importância capital no cinema europeu dos últimos 25 anos. Já o veterano Marco Bellocchio visitou Reiquiavique para receber um prémio especial que sublinhou a “narrativa inovadora” de “Esterno Notte”, a magnífica série de seis episódios que o italiano realizou para a RAI em torno do rapto e da morte de Aldo Moro, em 1978, às mãos das Brigadas Vermelhas.

Os Prémios do Cinema Europeu “são como os Óscares, só que aqui todos os filmes são estrangeiros”, brincaram os apresentadores islandeses da cerimónia que a Academia Portuguesa de Cinema transmitiu em direto no seu site. Resta agora saber se Ruben Östlund também chega aos Óscares, aos verdadeiros, no outro lado do Atlântico. Para já, vai bem lançado.

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