Cultura

Negociações secretas entre a Grécia e o Reino Unido para a devolução dos frisos do Partenon

Os mármores do Partenon estão atualmente no British Museum, em Londres
Os mármores do Partenon estão atualmente no British Museum, em Londres
Dylan Martinez/REUTERS

Há mais de um ano que decorrem conversações para o repatriamento de uma das imagens mais emblemáticas da cultura ocidental

É mais do que complexo o tema da eventual devolução dos frisos do Partenon à Grécia, a sua geografia de origem, mas, apesar das dificuldades, há sinais de fumo branco no horizonte. O próprio primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, grego já veio a público dizer que há avanços nas negociações.

A 28 de novembro, Mitsotakis reuniu-se com o diretor do British Museum, George Osborne, segundo o jornal grego “Tea Nea”, sobre a mesa estava o processo de devolução dos frisos em mármore do Partenon. As conversas, classificadas como “secretas”, estarão a acontecer a já há cerca de um ano em Londres, avança o jornal.

Também conhecidos como “mármores de Elgin”, os frisos foram retirados do Partenon no início do século XIX pelo diplomata britânico Lord Elgin e, desde então, encontram-se expostos à visitação no Museu Britânico. Mas, há vários anos que a Grécia pede a sua restituição, por considerar que são parte da própria identidade nacional.

"É possível que se encontre uma solução mutuamente benéfica. As esculturas do Partenon podem ser reunidas e, ao mesmo tempo, pode-se levar em conta as preocupações do Museu Britânico", declarou Mitsotakis, citado pela agência de notícias grega ANA-MPA.

Também o o Museu Britânico emitiu uma nota no último sábado, em que afirmava querer "uma nova parceria com a Grécia para o Partenon" e mostrando disponibilidade para conversar com Atenas, embora não desse mais detalhes e, desta forma não afaste a persistência de um impasse. “Operamos dentro da lei e não vamos desmantelar a nossa grande coleção, já que conta uma história única da nossa humanidade comum”, podia ler-se ainda no comunicado divulgado pelo museu.

Ao “Guardian”, o ministro grego Giorgos Gerapetritis confirmou ser “verdade que há um diálogo entre o Governo grego e o Museu Britânico”, classificando, contudo, as conversações como “preliminares”. À AFP, Mitosotakis mostrou-se ainda mais otimista: “É possível que seja encontrada uma solução mutuamente vantajosa, que as esculturas do Partenon possam ser reunificadas, tendo em conta ao mesmo tempo as inquietações do Museu Britânico.”

George Osborne é ex-ministro britânico das Finanças e Londres tem argumentado que as esculturas foram "adquiridas legalmente" em 1802 pelo diplomata britânico Lord Elgin, que as terá vendido ao museu, 14 anos depois. A Grécia responde afirmando que os frisos foram "saqueados", enquanto durou a ocupação otomana.

Caso se concretize a devolução, a decisão será um movimento emblemático num momento em que vários países europeus discutem a questão da devolução de obras de arte, bens culturais e despojos com origem em geografias extra-europeias e ex-colónias. O jornal britânico “Observer” classificou mesmo estas discussões greco-britânicas como um “movimento tectónico”.
A ponta do véu sobre uma solução foi levantado pelo próprio Mitostakis: "Ainda há um longo caminho a percorrer, mas vamos continuar com nossas discussões. É muito bom que agora estejamos tentando estabelecer uma cooperação muito mais ampla com o Museu Britânico, que não envolva apenas antiguidades clássicas, mas tesouros bizantinos que estaríamos dispostos a enviar.”

O friso em causa tem cerca de 2500 anos e 75 metros de comprimento. Na esperança de o recuperar, a Grécia construiu um museu em 2009, cujo objectivo é justamente o de acolher e exibir os importantes mármores.

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