Cultura

“Mão de Irulegi”: descoberto o registo escrito mais antigo da língua basca

“Mão de Irulegi”: descoberto o registo escrito mais antigo da língua basca
juantxo egana

Composta por cinco palavras, a inscrição numa mão de bronze – colocada na porta de casa como proteção – é o texto mais antigo e mais longo em basco conhecido até agora

Uma mão de bronze com 2100 anos foi recuperada no Monte Irulegi, no Vale de Aranguren, em Navarra (Espanha). Esta não é uma descoberta qualquer: trata-se do “primeiro documento escrito em língua basca”, anunciou esta semana a sociedade científica Aranzadi.

“Somos capazes de compreender a primeira palavra, que é ‘sorioneku’, mas ainda não conseguimos decifrar as seguintes”, explicou Joaquín Gorrochategui, professor de filologia indoeuropeia na Universidade do País Basco, durante a apresentação da novidade.

“Podemos começar a falar, a partir da peça Irulegi, da existência de um sistema gráfico propriamente basco em funcionamento nessa altura”, acrescentou Javier Velaza, professor de filologia latina na Universidade de Barcelona.

Gorrochategui defende que é preciso mais investigação, uma vez que a peça agora descoberta “vira ao contrário" o que se pensava "até agora sobre os bascos e a escrita”. “Estávamos quase convencidos de que os bascos eram analfabetos na antiguidade e não utilizavam a escrita, exceto para cunhar moedas”, justifica. Neste sentido, está em causa uma descoberta que “lança luz” sobre a cultura basca.

Em 2017, a equipa de arqueologia da Aranzadi começou a escavar em Irulegi, junto a um castelo onde foi encontrada uma povoação da Idade do Ferro. Durante as mais recentes escavações, os especialistas recuperaram muito material arqueológico da vida quotidiana das pessoas que ali residiam.

Esta “peça excecional”, conhecida como “mão de Irulegi”, data do século I a.C. Foi extraída em junho de 2021 e depositada no departamento de restauro do Governo de Navarra. A inscrição só foi descoberta em janeiro deste ano, quando começaram os trabalhos de limpeza da peça. Os peritos Gorrochategui e Velaza foram os responsáveis pelo estudo da escrita gravada.

São cinco palavras em quatro linhas, a primeira das quais já foi decifrada – “sorioneku” – significará algo como boa sorte. Estes objetos eram habitualmente colocados na porta de entrada de casa, numa espécie de ritual de proteção – a “mão de Irulegi” foi precisamente encontrada junto a uma habitação.

A Aranzadi salienta que as repercussões desta revelação para o conhecimento linguístico do basco, e também de possíveis ligações com outras línguas ibéricas, exigem a realização de estudos mais aprofundados.

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