Cultura

Ativismo ambiental: segurança em torno de "Guernica", de Picasso, vai ser reforçada

A "Guernica" de Pablo Picasso, exposta no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid
A "Guernica" de Pablo Picasso, exposta no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid
Denis Doyle

Em resposta a um crescente movimento de ações de desobediência civil contra obras de arte, o Ministério da Cultura de Espanha comunicou a várias instituições do Estado que estas deviam "tomar medidas de segurança extremas" e ser “exaustivas” no cumprimento das normas de acesso. O Museu Rainha Sofía, em Madrid, já recorre ao serviço de polícias à paisana

Em resposta a uma vaga de ativismo ambiental que tem afetado museus um pouco por toda a Europa nos últimos meses, o Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofía, na capital espanhola de Madrid, decidiu reforçar a segurança em torno da sua obra mais célebre: “Guernica”, de Pablo Picasso.

Segundo apurou o jornal espanhol El País, o Museu Rainha Sofía procurou aumentar a sua segurança recorrendo ao serviço de polícias à paisana, alguns dos quais já vigiam as instalações do museu “há vários dias”. O Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, também em Madrid, seguiu o mesmo caminho, ilustrando o nível de alarme que assola o sector da cultura espanhol.

Numa prova disso mesmo, o próprio Ministério da Cultura de Espanha comunicou dia 25 de outubro a várias instituições do Estado que estas deviam “tomar medidas de segurança extremas" e ser “exaustivas” no cumprimento das normas de acesso. No entanto, “zero risco não existe”, advertiu Miquel Iceta, ministro da Cultura, esta segunda-feira.

De facto, o país tinha conseguido escapar à recente determinação dos ativistas climáticos, isto até ao passado dia 5 de novembro, dia em que dois elementos da organização “Extinction Rebellion” entraram no Museu do Prado, situado a escassos metros do Thyssen-Bornemisza, e colaram as mãos nas molduras de dois quadros de Francisco de Goya.

“No Prado nada falhou. O que aconteceu de errado no Louvre? Simplesmente, esse risco zero não existe”, continuou Iceta, referindo-se ainda a um protesto semelhante que ocorreu em maio no Museu do Louvre, em Paris, desta vez visando a “Mona Lisa” de Leonardo Da Vinci. “Neste fim de semana, no Museu do Prado foram 9000 visitantes. A única maneira de garantir risco zero seria fechar os museus, e não estamos dispostos a fazer isso."

No caso do Rainha Sofía, acresce o facto de a “Guernica” não estar protegida por um vidro, ao contrário de outras obras de estatuto equivalente - o que poderá torná-la um alvo apetecível para os ativistas.

Em incidentes passados, vidros protetores conseguiram evitar que as pinturas atacadas sofressem qualquer dano, tal como se verificou quando, em outubro, ativistas da coligação ambiental Just Stop Oil e do grupo alemão Letzte Generation atiraram sopa de tomate contra os "Girassóis" de Vincent Van Gogh e puré de batata contra um quadro de Monet, respetivamente.

Ouvidas pelo Expresso no passado dia 25 de outubro, várias personalidades portuguesas dos sectores da arte e do ambientalismo mostraram-se descontentes face aos métodos utilizados nestas ações de desobediência civil.

Helena Mendes Pereira, curadora de arte e especialista em práticas artísticas e culturais contemporâneas, defende que o “vandalismo não pode ter lugar no ativismo”. Se os ativistas “querem alertar para a destruição do planeta, não me parece que atacar o que mais bonito o ser humano fez seja eficaz”, defende a Diretora da Bienal de Cerveira e da Zet Galery, acrescentando que “acaba por ser um tiro no pé, mesmo que a intenção seja benigna”.

Já Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, aponta que, nestas ações, “não se percebe o contexto e a mensagem pode não passar”. Embora reconheça que o objetivo dos protestos passe por gerar atenção mediática, ações deste género criam adversidade” e “podem fazer com que haja alguma desmobilização”, quando “é preciso trazer as pessoas para a causa, em vez de as afastar”.

Texto de José Gonçalves Neves, editado por Mafalda Ganhão

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