Cultura

Obras de arte na mira dos ativistas ambientais: outro quadro de Van Gogh foi alvo de ataque com sopa em Roma

Exposição do Palazzo Bonaparte
Exposição do Palazzo Bonaparte
Antonio Masiello

A pintura “O Semeador” foi alvo de um ataque por parte de três ambientalistas. A obra, protegida por um vidro, encontrava-se exposta no Palazzo Bonaparte, em Roma

Depois de, em outubro, "Os Girassóis", em exposição na National Gallery, em Londres, ter sido atingido pelos ativistas da Just Stop Oil, desta vez três integrantes da associação ambientalista italiana Ultima Gerazione atiraram sopa contra outro quadro do artista neerlandês Vincent Van Gogh que estava exposto no Palazzo Bonaparte, em Roma. Por estar protegida por um vidro, a pintura “O Semeador”, de 1888, não sofreu danos.

Os ativistas alegam que agiram "em nome do amor pela vida e, consequentemente, com amor pela arte". Os responsáveis também questionam: "Num futuro em que será difícil assegurar comida para todos, como é que podemos acreditar que a arte continuará protegida?"

Trata-se de mais um ato de desobediência civil ocorrido que visa acervo museológico. No final de outubro, um ativista da coligação ambientalista Just Stop Oil entrou no Mauritshuis, em Haia, nos Países Baixos, e tentou colar a sua cabeça ao quadro ‘Rapariga com Brinco de Pérola’, um dos retratos de Johannes Vermeer.

Já um outro ativista da organização antipetróleo atirou sopa de tomate contra o quadro e contra o parceiro que o acompanhava. Recuando a 14 de outubro, na National Galery, em Londres, duas jovens, de 20 e 21 anos, arremessaram sopa de tomate contra os girassóis de Vincent Van Gogh. Vídeos que circularam nas redes sociais permitiam ouvir o manifesto: “Como é que se sentem quando vêem algo belo e insubstituível a ser destruído à frente dos vossos olhos? Sentem-se indignados? Ainda bem. Porque é que não se sentem assim quando vêem o planeta a ser destruído?”

Ouvidas pelo Expresso, várias personalidades dos sectores da arte e do ambientalismo censuraram os métodos utilizados pela Just Stop Oil.

Helena Mendes Pereira, curadora de arte e especialista em práticas artísticas e culturais contemporâneas, defendeu que o “vandalismo não pode ter lugar no ativismo”. Se os ativistas “querem alertar para a destruição do planeta, não me parece que atacar o que mais bonito o ser humano fez seja eficaz”, analisou, nessa altura, a diretora da Bienal de Cerveira e da Zet Galery, acrescentando que “acaba por ser um tiro no pé, mesmo que a intenção seja benigna”.

Já Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, apontou que, nestas ações, “não se percebe o contexto e a mensagem pode não passar”. Embora reconheça que o objetivo dos protestos passe por gerar atenção mediática, ações deste género criam adversidade” e “podem fazer com que haja alguma desmobilização”, quando “é preciso trazer as pessoas para a causa, em vez de as afastar”.

O arremesso de comida a obras de arte tem sido explicado pelos ativistas como uma forma de chamar a atenção para as alterações climáticas, gerando disrupção.

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