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Emanuela Orlandi desapareceu misteriosamente há quase 40 anos. Série da Netflix avança nova explicação

Emanuela Orlandi desapareceu misteriosamente há quase 40 anos. Série da Netflix avança nova explicação
FILIPPO MONTEFORTE/AFP/GettyImages

A jovem tinha 15 anos quando desapareceu, em Roma, em 1983. “Vatican Girl: The Disappearance of Emanuela Orlandi”, a série documental com estreia marcada para o dia 20 de outubro, avança que dias antes Emanuela terá sido abusada sexualmente por “alguém próximo do Papa”

A 22 de junho de 1983, uma jovem de 15 anos saiu da escola de música que frequentava em Roma, entrou num carro conduzido por um suposto padre e nunca mais foi vista. Filha de um funcionário do Vaticano, desde então várias têm sido as histórias avançadas para explicar o desaparecimento de Emanuela Orlandi, incluindo teorias envolvendo tráfico sexual ou chantagens contra o então Papa, João Paulo II.

Uma nova teoria surge agora, a propósito do lançamento da série documental da Netflix intitulada “Vatican Girl: The Disappearance of Emanuela Orlandi”, com estreia anunciada para 20 de outubro. Uma amiga de infância de Emanuela conta que, dias antes do desaparecimento, a adolescente foi abusada sexualmente dentro do Vaticano por “alguém próximo do Papa”.

Na série é dito que a jovem foi raptada pelo gangue da Magliana – organização criminal com o mesmo nome de um bairro em Roma – como forma de pressionar o Vaticano a pagar o dinheiro que o grupo emprestou para financiar secretamente o sindicato polaco Solidarność (Solidariedade), no país de origem de João Paulo II. Conforme escrevia o Expresso em 2019, a amante do líder do gangue, Renato De Pedis, indicou que este se vestiu de padre e sequestrou Emanuela.

No documentário com quatro episódios, uma amiga de Emanuela revela que, cerca de uma semana antes do desaparecimento, esta disse ter “um segredo a confessar”. Segundo o testemunho, a jovem disse que enquanto passeava pelo Vaticano, foi “incomodada” por uma “pessoa muito próxima do Papa”. Uma situação de abuso sexual? “Absolutamente, sim”, garante a amiga.

Emanuela estava “assustada, até mesmo envergonhada”, acrescentou, de acordo com o “The Telegraph”. Sobre não ter divulgado a informação antes, a mulher justifica que sempre teve medo. “Penso que ela não se sentiu à vontade antes porque sente o peso da Igreja e da sua própria fé católica”, afirmou o realizador, Mark Lewis, ao jornal britânico. “A ideia de que havia pedofilia na Igreja foi um assunto tão tabu durante tanto tempo. E isto é ainda pior – não é apenas pedofilia dentro da Igreja Católica, é dentro do Vaticano”, sublinhou.

Para Andrea Purgatori, jornalista italiano que tem acompanhado o caso, o gangue da Magliana pode ter usado este “segredo sexual” enquanto “derradeira alavanca da chantagem” contra o Vaticano. Outro jornalista italiano, Emiliano Fittipaldi, vê como “única explicação” a existência de um “grande segredo que poderia ter criado um enorme escândalo [para o Vaticano]”.

Os últimos desenvolvimentos no caso remontam a julho de 2019, quando foram abertos dois túmulos num cemitério no Vaticano que, ao contrário do esperado, estavam vazios. Dois ossários descobertos perto dos túmulos foram analisados e os peritos concluíram que eram demasiado antigos para serem de Emanuela Orlandi.

A advogada da família, Laura Sgrò, diz estar “absolutamente certa de que o Vaticano sabe o que aconteceu a Emanuela”. “Chegou a altura de o Vaticano esclarecer exatamente o que aconteceu e dar à família uma explicação conclusiva. Não há tempo a perder”, declarou, citada pelo “The Telegraph”. O irmão da vítima, Pietro Orlandi, defende que “é o momento de dizer a verdade”, depois de quase 40 anos a tentar descobrir o que aconteceu. “Nunca vamos parar de a procurar”, garante.

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