Cultura

No meio da ansiedade, a BoCA é um ato de fé nas virtudes da arte

Sexta-feira repõe-se “Endgame”, de Samuel Beckett, numa encenação da artista cubana Tania Bruguera

susana neves

Em tempos de urgência e crise, a BoCA (Biennial of Contemporary Arts) Online confia na capacidade de consolo e de regeneração da arte

25 abril 2020 21:34

A primeira edição da BoCA aconteceu em 2017, a segunda em 2019. Trata-se de uma bienal — Biennial of Contemporary Arts — a acontecer em Lisboa e no Porto, inicialmente, estendendo-se depois a Braga. O objetivo da BoCA foi, desde o início, promover a criação, a apresentação e a circulação da arte contemporânea; John Romão foi quem esteve na origem deste projeto. Na BoCA deveria ser possível ver o presente da criação artística na sua relação com aquilo que já aconteceu; cruzar o presente com o passado. Outro traço importante foi articular as várias modalidades artísticas, numa espécie de plataforma de liberdade criativa transdisciplinar e inclusiva. A circulação, de obras e de artistas, além de circuitos circunscritos às cidades referidas, ou mesmo ao território nacional foi desde o início uma outra linha importante da Bienal. Finalmente, a BoCA procurou sempre o alargamento de públicos, chegar a grupos e lugares eventualmente menos frequentados pela criação artística, ou com menos familiaridade quer com a arte em geral quer com a criação contemporânea. Previsivelmente, a BoCA regressará em 2021.

Entretanto, há o que não se prevê, pelo menos diretamente; e o que não corre bem. Neste momento existe um vírus novo, um contágio também novo, uma epidemia nova, e uma vida diferente. Um dos resultados mais salientes desta pandemia é o confinamento obrigatório a que as pessoas são obrigadas. A ciência e a tecnologia são extraordinárias, em 2020; no entanto, há neste confinamento e neste medo dos contágios qualquer coisa de ancestral, encontramo-nos, como há 500 anos, perante doenças desconhecidas; fugimos dos outros, falamos de longe, não tocamos em nada fora da nossa casa, do nosso escritório ou do nosso quarto. Sem querer, estamos a viver hoje e ontem; independentemente do contexto atual, a arte já tinha, aliás, redesenhado este aspeto do real; sobrepor, cruzar, baralhar planos temporais não é só coisa de literatura experimental, do cinema, da música ou do teatro. É, neste caso, a dura realidade, com arte ou sem ela.

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