Coronavírus

Estudo reforça ideia de que pessoas sem sintomas podem transmitir covid-19

Estudo reforça ideia de que pessoas sem sintomas podem transmitir covid-19
Smith Collection/Gado/Getty Images

Governo dos EUA vai reforçar alerta aos assintomáticos, que, sem mostrar sinais da doença, podem transmiti-la. Alguns recuperados mantêm carga viral

Estudo reforça ideia de que pessoas sem sintomas podem transmitir covid-19

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Desde o início da pandemia que ouvimos dizer que um dos motivos do perigo do novo coronavírus é a sua capacidade de ser propagado por indivíduos sem sintomas de covid-19. Essa ideia é confirmada por um estudo divulgado esta quarta-feira em Singapura, segundo o qual 10% dos contágios partem de pessoas assintomáticas.

A revelação levou, esta quarta-feira, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa) a alargar as suas diretrizes para evitar a propagação da pandemia. À semelhança do que já faziam países europeus, incluindo Portugal, a agência americana alertou para o risco que representam aqueles que, embora sem sinais de enfermidade, possam ter estado expostos a casos confirmados ou suspeitos de infeção.

“É preciso ser mesmo proativo na redução de contactos entre pessoas que parecem estar de perfeita saúde”, afirmou a investigadora Lauren Ancel Meyers, da Universidade do Texas, citada pela agência Associated Press (AP). O estudo epidemiológico, realizado em Singapura, inclui, entre outros, o caso de uma mulher de meia-idade infetada por se ter sentado num banco de igreja ocupado, no dia anterior, por dois turistas sem sintomas, que adoeceram dias mais tarde.

A AP recorda que o surto de pneumonia atípica (síndrome respiratória aguda grave, SARS na sigla inglesa) de 2003, também causado por um coronavírus — que atingiu mais de 8000 pessoas e matou mais de 700 —, incluiu pacientes assintomáticos, mas estes não transmitiam o agente infecioso. A contenção era, pois, “muito, muito mais fácil”, segundo o biólogo Carl Bergstrom, da Universidade de Washington, que estuda doenças infeciosas emergentes.

Recuperados também podem transmitir vírus

Os cientistas distinguem três categorias de infetados na atual pandemia: os que contaminam outros sem terem sintomas, adoecendo dias depois; os assintomáticos, que nunca chegam a ter sintomas; e os que, após recuperação, continuam a poder transmitir o coronavírus. Meyers explica que as proporções relativas destes grupos não são claras.

O diretor do CDC, Robert Redfield, afirmou a uma rádio, terça-feira, que calcula que 25% dos infetados sejam assintomáticos. Tenciona rever as recomendações do CDC, que à hora em que este texto foi escrito (8h de quinta-feira, 2 de abril) indicavam: “Alguma transmissão poderá ser possível antes de as pessoas exibirem sintomas; há relatos dessa ocorrência com o novo coronavírus, mas não se pensa que seja a principal forma de propagação do vírus”.

A revista “Nature” publicou, quarta-feira, um artigo científico sobre casos de covid-19 com sintomas ligeiros que prova a replicação do vírus em tecidos do tracto respiratório superior (garganta), nomeadamente em pacientes com doença ligeira. Ambos os dados preocupam: significam que o contágio pode dar-se em fases muito iniciais da infeção (antes de o coronavírus penetrar nos pulmões) e em que o afetado não está ciente de sê-lo.

Medo de ressurgimento na China

O mesmo estudo indicou que 50% dos pacientes têm testes negativos após sete dias e todos após 14 dias, mas a carga viral não decresce imediatamente. Não foram encontradas amostras de coronavírus infeccioso nas fezes dos testados, apesar de certa concentração de ARN (ácido ribonucleico, o tipo de molécula que contém o material genético do vírus), nem no sangue e na urina.

Em Wuhan, onde a presente pandemia teve início, 5 a 10% dos pacientes que tiveram testes positivos de covid-19, e depois recuperaram da doença, voltaram a ter testes positivos, noticiou a rádio pública americana NPR. Serão, adianta a fonte, portadores assintomáticos, o que levanta receios de novo surto na província chinesa de Hubei.

A covid-19 transmite-se em gotículas geradas por tosse ou espirros, e também quando se toca uma superfície ou objeto onde o coronavírus esteja alojado, levando depois as mãos à boca, nariz ou olhos.

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