Coronavírus

Covid-19. Índia em quarentena, Itália aterradora e coronabonds sem consenso em mais uma volta ao mundo da pandemia

Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia
Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia
Avishek Das/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

A OMS alerta que os EUA podem tornar-se o novo epicentro da pandemia, mas Trump já vislumbra “o fim da batalha histórica”. Itália regista mais 743 mortes em apenas 24 horas, enquanto as autoridades espanholas pedem ajuda à NATO. O que já é certo é que as Olimpíadas 2020 não serão realizadas este ano

Mais 1,3 mil milhões de pessoas ficaram esta terça-feira (meia-noite de quarta em Nova Deli) em quarentena, depois de o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ter decretado o “isolamento total” do país durante 21 dias. O conjunto da população indiana junta-se assim a cerca de 20% da população mundial que já tem os seus movimentos bastante condicionados, quando não absolutamente interditos, devido ao coronavírus covid-19.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que, face à “muito grande aceleração” de infeções nos EUA, o país poderá tornar-se o novo epicentro da pandemia. Segundo os dados mais recentes, há mais de 53 mil infetados em território norte-americano, sendo que o número de mortes num só dia ultrapassou na segunda-feira, pela primeira vez, uma centena, estando contabilizado um total de 686 mortos.

Ainda assim, o Presidente norte-americano, Donald Trump, declarou que pretende “aliviar as diretrizes” de distanciamento social por volta da Páscoa, vislumbrando já “o fim da batalha histórica com o inimigo invisível” e garantindo: “Vamos vencer, vamos vencer.” Apesar da vontade manifestada por Trump, o administrador de saúde pública dos EUA, Jerome Adams, sublinhou que a situação ainda irá piorar bastante no país antes de melhorar. O mayor de Rancho Palos Verdes, na Califórnia, revelou que ele e a mulher foram contagiados depois de terem estado numa festa de aniversário realizada no Trump National Golf Club Los Angeles, propriedade do Presidente dos Estados Unidos.

O dramaturgo norte-americano Terrence McNally foi uma das mais recentes vítimas mortais da covid-19, morrendo aos 81 anos. Também o saxofonista camaronês Manu Dibango, um marco na história do afro-jazz, morreu em França, aos 86 anos.

Itália volta a assustar

Itália continua a ser o país com os números mais dramáticos, tendo registado mais 743 mortes e interrompendo dois dias de tendência de decréscimo. O número total de vítimas mortais em solo italiano é agora de 6.820. Já o número total de infetados é de 69.176, o que representa um acréscimo de mais de cinco mil casos face aos dados divulgados na segunda-feira. Mais dois dados preocupantes: um estudo sugere que os primeiros casos em Itália datam de 1 de janeiro, enquanto a Proteção Civil nacional diz que os infetados podem ser 600 mil.

Em Espanha, o cenário continua a desenhar-se aterrador: em apenas 24 horas, cerca de meio milhar de novas mortes. Há quase 40 mil casos de infetados e o número total de óbitos já ultrapassa os 2.800. O Ministério da Defesa pediu ajuda à NATO para combater o surto de covid-19. Numa carta assinada pela ministra Margarita Robles, dirigida ao centro de coordenação da resposta a desastres da organização, Madrid solicita assistência humanitária, nomeadamente para o fornecimento de material sanitário que escasseia no país. Entretanto, o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón foi hospitalizado em Madrid na sequência de um teste positivo.

Ao lado, em França, a quarentena foi declarada indispensável até ao final de abril. E o ministro francês da Agricultura aponta o sector agrário aos desempregados: “Façamos um ato cívico, vamos para o campo.”

Esta terça-feira também foi notícia que cerca de seis milhões de máscaras destinadas à Alemanha desapareceram no Quénia. Mas Bruxelas já tem ofertas para aquisição de equipamentos de proteção. A propósito, toneladas de material médico estão a chegar a todo o mundo. De onde vem a ajuda? E a que preço?

No Reino Unido, o ministro da Saúde declarou que o país procura 250 mil voluntários para o serviço nacional de saúde. Nas últimas 24 horas, morreram mais 87 pessoas, elevando o número total de vítimas mortais no país para 422.

A República Checa vai avançar com a geolocalização para rastrear os movimentos dos portadores do vírus, mas a União Europeia (UE) mostra-se preocupada.

Centeno pressiona coronabonds

O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, sinalizou que não desistiu de tentar convencer os países do norte da UE a fazer emissões de dívida europeia para combater o surto e as suas consequências económicas. É preciso “mais trabalho”, disse Centeno, sinalizando que a discussão tem de ser feita em termos diferentes daqueles que foram seguidos durante a crise financeira de 2008. O ministro português das Finanças, que foi um crítico da intervenção europeia no tempo da crise, não deixou de manifestar o seu ponto de vista: “O problema não é comparável ao que vivemos na crise anterior. Todas as decisões são construídas em consenso. Tenho a certeza de que os resultados das conversações não repetirão os erros do passado.”

Na província chinesa de Hubei, onde tudo começou, os serviços de transporte ferroviário vão recomeçar a funcionar esta quarta-feira, com exceção de 17 estações na capital provincial de Wuhan, que se manterão encerradas. Mas, após dois meses, os residentes daquela cidade estão finalmente autorizados a sair de casa. Apesar do lento regresso à normalidade, um estudo secreto do Governo de Pequim alerta que a China pode ter muito mais infetados do que revelam os números oficiais.

Noutras latitudes, a Venezuela reforçou as restrições à circulação de pessoas, Cuba coloca em quarentena todos os turistas, o Peru projetou quatro milhões antes de decretar o confinamento, as Filipinas aprovaram a emergência nacional e reforçaram os poderes presidenciais. No continente africano, o vírus continua a ganhar terreno, com o registo de 58 mortes e quase 2.000 casos.

Perceba neste link por que motivo “é extremamente provável” que a jovem ativista Greta Thunberg tenha sido infetada.

Olimpíadas de Tóquio adiadas

É oficial: os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 não serão realizados este ano. Ainda não há nova data, mas será “o mais tardar no verão de 2021”.

A pandemia pode custar 252 mil milhões de dólares ao transporte aéreo. E o investimento em startups também está a ser bastante beliscado.

Não constituirá propriamente um dado inovador, mas não custa sublinhar que a partilha de dados sobre o coronavírus ajuda no combate à pandemia.

Para esta quinta-feira está agendada uma reunião por videoconferência dos líderes do G20 para o debate de medidas de combate.

Wall Street fechou esta terça-feira com fortíssimos ganhos naquele que foi o melhor dia desde 1933.

E, a fechar, conheça os homens que previram a pandemia.

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