Diretora-geral da Saúde alerta para máscaras que dão “falsa sensação de segurança”
Graça Freitas na conferência de imprensa de 22 de março
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
Graça Freitas e Marta Temido informaram hoje que 80% dos casos de covid-19 em Portugal são ligeiros e tratados em casa. Governo investiga especulação no preço do álcool etílico
A diretora-geral da Saúde desaconselhou o uso de máscaras e alertou para produtos à venda na Internet que não cumprem sequer essa função. “Não vale a pena a utilização de máscaras, sobretudo se não forem verdadeiras máscaras, mas pedaços de tecido. O importante é o distanciamento social e ter cuidado com o contacto com a boca e com o nariz”, afirmou na Graça Freitas conferência de imprensa diária em que compareceu ao lado da ministra da Saúde.
E explicou: “Aquele pano não é impermeável, vai ficar húmido e os vírus vão passar, dá uma falsa sensação de segurança.” A ministra Marta Temido recomendou ainda o hábito de “manter as casas bem arejadas”.
A diretora-geral prometeu para “os próximos dias” um esforço de caracterização dos doentes de covid-19 em Portugal, utilizando sistemas informáticos para coligir dados do seu historial clínico. Portugal tem 14 vítimas mortais e 1600 contaminados e cinco recuperações. Entre os doentes, 169 estão internados e 41 nos cuidados intensivos, dos quais 26 em estado grave. Há ainda 12.562 pessoas em vigilância por terem tido contacto com casos de covid-19.
Crescimento maior a Norte
A pandemia cresce mais depressa no Norte do país, onde se concentra mais de metade dos casos (825, uma subida de 181 face a sábado). Na região de Lisboa são 534, no Centro 180, no Algarve 35, na Madeira 7, no Alentejo 5, nos Açores 4.
Dos contaminados, 236 têm mais de 70 anos, sendo os que correm maior perigo. Abaixo dos 30 anos há 267, dos quais 23 abaixo dos 10. As vítimas mortais distribuem-se assim: Norte 5, Centro 4, Lisboa e Vale do Tejo 4, Sul 1.
Marta Temido durante a conferência de imprensa de 22 de março de 2020
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
Freitas afirmou ainda que “os óbitos que ocorreram em Portugal correspondem àquele perfil clássico: são pessoas idosas e com múltipla patologia, patologia grave na maior parte das circunstâncias”. Os falecidos em casa só serão sujeitos a teste de coronavírus se tiverem apresentado “sintomatologia compatível” ou “contactos com pessoas infetadas”, como entender o médico que certificar o óbito.
Sem admitir para já a fixação administrativa de preços do álcool etílico ou de produtos desinfetantes, Temido explicou que o Governo procura combater a especulação (de que têm sido relatados inúmeros casos) com “fiscalização, através das entidades competentes”.
80% dos casos são ligeiros
A ministra assegurou ainda que 80% dos casos de covid-19 em Portugal estão a ser tratados em casa, por serem “ligeiros”. A diretora-geral alertou que embora a doença pareça ter taxas de crescimento mais baixas em dias recentes (o crescimento de sábado para domingo foi de 25%), com um “comportamento não-explosivo”, trata-se de “uma curva precoce de apenas três dias”. Por isso não se “atreve” a fazer previsões.
Da mesma forma, Freitas não assume certezas sobre a imunidade gerada nos doentes que recuperam da doença. “Tudo indica que há imunidade na maior parte dos casos, mas não sabemos a duração dessa imunidade. Nos futuros meses e anos vamos ter de testar muitas pessoas para perceber isso.” A diretora-geral e a ministra agradeceram as doações de material de teste e outras.
Freitas e Temido falaram ainda do lar de Vila Nova de Famalicão que tem oito funcionárias infetadas com coronavírus, onde 33 utentes estão agora a cargo de apenas duas pessoas (a diretora técnica e uma enfermeira). Os utentes estão a ser testados, asseguraram.
A ministra aproveitou para recomendar que os profissionais que trabalham em presença física nas instituições se organizem em “equipas a funcionar em espelho”, com um trabalhador em casa, preventivamente, por cada um que esteja exposto.