Da Terra à Mesa

Cherovia, uma raiz ancestral de sabor especial

Cherovia, uma raiz ancestral de sabor especial

Há quem a conheça por cherovia ou cheruvia e quem a chame pastinaca ou pastinaga. Esta raiz, de aspeto semelhante a uma cenoura, é um ex-libris da região da Covilhã, onde é celebrada anualmente num festival gastronómico. Daniel Almeida é produtor e explica as características deste produto. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante

Com “a forma de uma cenoura e a cor de um nabo”, como descreve a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), a cherovia é uma raiz de sabor único, que antigamente ocupava o lugar da batata, cultura bastante mais produtiva. “Não se assemelha a nenhum outro vegetal que se encontre no mercado, tem um paladar anisado”, adianta Daniel Almeida, 36 anos, produtor de cherovia em Ferro, uma freguesia do município da Covilhã.

Segundo informações da DGADR, a sua “vasta produção” só é possível em “terras da Covilhã”, uma vez que esta raíz “não cresce em climas quentes” e “necessita da geada para desenvolver o seu sabor”, o que faz dela um emblema da gastronomia local. E Daniel desenvolve: “a cherovia precisa de bastante calor, mas também precisa de noites frias para ganhar o seu sabor característico”, além de solos arenosos.

Há cinco anos, Daniel juntou-se aos pais, também produtores, e dedica-se à terra a tempo inteiro, indo ao encontro de uma das medidas da PAC para o período 2023-2027, que pretende atrair os jovens agricultores e facilitar o desenvolvimento das empresas nas zonas rurais. “As sementeiras ocorrem a partir de fevereiro e vão até março. A apanha do vegetal começa em meados de junho e prolonga-se até março ou abril do ano seguinte. As cherovias vão sendo arrancadas à medida que vão para o mercado”, explica o produtor que, anualmente, explora quatro a cinco hectares de terreno.

A maioria do produto é vendido diretamente ao consumidor, em mercados, mas também fornecem supermercados locais e enviam algum produto para Lisboa, mas “a falta de conhecimento” dificulta a propagação deste vegetal. “Para quem nos visita e não conhece, sugiro que se compare a cherovia com a batata-doce. Tudo o que se consegue fazer com batata-doce, consegue-se fazer com cherovia.” Pode ser utilizada para sopas, purés e salteados, cortada e frita, como é tradicional na região, ou na confeção de doces, graças aos seus açúcares naturais. “Hoje em dia até se estão a fazer licores e compotas”, conta.

Cherovia
Foto: DGADR

Do festival gastronómico à confraria

Promover este produto é o objetivo do Festival da Cherovia, que entre 21 e 24 de setembro regressa à Covilhã para a 16ª edição, com mostra de produtos, showcookings e rotas. E é também a missão da Confraria da Pastinaca e do Pastel de Molho da Covilhã, que nasceu há 12 anos para “divulgar dois produtos regionais”, explica Paulo Carvalho, presidente.

Do ponto de vista gastronómico, a cherovia “pode ser confecionada de todas as maneiras”. A sua versatilidade permite que a confraria a promova também com alguma criatividade. “Temos trabalhado com alguns chefs que têm feito receitas inovadoras”, diz. Brás de cherovia, bolo de cherovia e folhado de cherovia são alguns dos exemplos. Mas, afirma, “até há uma dezena de anos, a pastinaca era um produto pobre, associado à alimentação dos animais, e não era bem aceite na gastronomia”.

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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